20140828

Eduardo Campos. Quem beneficia com o atentado?

Estranho quando, aparentemente, o beneficiário de um crime é aquele que, em princípio, seria a principal vítima, não? Os defensores da tese do atentado contra o avião Cessna do candidato presidencial brasileiro, Eduardo Campos, lançaram suspeitas na direcção do partido no poder, mas as sondagens insistem em indicar que o atentado foi a melhor coisa que aconteceu ao partido da vítima. Isto é uma leitura factual, vista à distância de um Oceano, a frio, sem acusar ou defender qualquer parte. Não voto nas eleições no Brasil, ainda sei muito pouco sobre o momento que vivem os irmãos brasileiros, mas estou cada vez mais interessado. Como já disse num texto anterior, através da minha experiência como jornalista que investigou a morte do primeiro-ministro de Portugal e ministro da Defesa na queda de um avião Cessna nos arredores do aeroporto de Lisboa, a 4 de Dezembro de 1980, foi necessário esperar quase 30 anos até que a tese de atentado fosse dada como sendo a mais certa. Só que ao fim deste tempo, a sociedade portuguesa ainda tem dúvidas e está demasiado distante dos factos para avaliar a importância daquilo que se concluiu. Pior ainda, Portugal vive mergulhado nos problemas criados pelos efeitos daquelas mortes, pelo que nem sequer tem tempo para parar e pensar nas implicações que, ainda hoje, a confirmação de atentado poderia provocar no panorama político e económico. Temo que o mesmo possa vir a acontecer no Brasil. Pelo pouco que vou tendo acesso via Internet, vejo que no Brasil estão a cometer os mesmos erros de investigação e que, muito provavelmente, só daqui a 30 anos vão concluir aquilo que hoje muitos avisam que pode ser verdade. E para o esclarecer, é urgente seguir alguns procedimentos de investigação. Sei, por exemplo, que os corpos das vítimas já foram enterrados. Mas, houve tempo para serem feitas análises por raio-x aos seus ossos? Em Portugal, os corpos das vítimas tiveram de ser exumados e descobriram-se vestígios de estilhaços nos ossos. E que isso era compatível com a suspeita da explosão de uma bomba a bordo. Dizem-me que no Brasil há quem sustente a hipótese de terem ocorrido duas explosões no avião. Uma primeira, no interior do aparelho, ainda no ar, e outra na queda - a pique e que abriu uma cratera no chão. Os corpos terão ficado despedaçados e não sei, do ponto de vista forense, até quanto um análise poderia ser indicativa de uma explosão criminosa. No entanto, reforço a minha dúvida: foram ou não feitos exames aos corpos no sentido de esclarecer uma eventual explosão criminosa do Cessna? Depois, os vestígios do avião. Foram ou não feitos exames destinados a detectar a existência de explosivos na estrutura do aparelho? Há ainda a questão das gravações das caixas pretas – caixas negras como nós dizemos deste lado do Oceano. Não são conclusivas, dizem-me. Um facto que aumenta a probabilidade de ter havido crime, tal como em Portugal, em 1980, quando o avião Cessna caiu no bairro chamado de Camarate sem que tenha sido registado qualquer comunicação de emergência por parte do piloto antes da queda. Entretanto, temos que considerar também factores tecnológicos que, em 1980, ainda não estavam tão presentes como hoje. Haverá assim a possibilidade do aparelho do candidato presidencial brasileiro ter sido sujeito a uma controlo remoto exterior que o conduziu para a queda? Será esta hipótese demasiado fantasiosa nos dias de hoje? Não me parece... Eduardo Campos seguia em terceiro lugar nas sondagens e, após a sua morte, o panorama político mudou. Agora, aquela que era candidata a vice-presidente, subiu para a cabeça da candidatura e ameaça derrotar a actual Presidenta na segunda volta das eleições. Quero acreditar que a morte de Eduardo Campos foi um golpe do destino, um acidente. Mas, este acidente tem tudo para ser apontado como tendo sido provocado por mão humana do que pela mão do destino. Claro que o destino guia a mão dos homens, mas dita-me também a experiência que isso acontece nos pequenos momentos da vida em que temos de tomar uma decisão e recebemos um sinal, dito divino, que nos ajuda a decidir por um lado e não pelo outro. Quando o homem está decidido a desafiar o destino e decide antecipar o fim da vida dos outros, não há maneira de ser parado pelo divino. Divino é depois o que acontece com as ondas de acção iniciadas por uma acção criminosa. E, para já, tudo aponta que uma possível acção criminosa vai colocar no Planalto uma pessoa que, antes da morte de Eduardo Campos, não era suposto lá chegar.

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20140816

Caso Boqueirão

Para os meus leitores no Brasil: Queridos irmãos brasileiros, compartilho a dor que sentem com o trágico desaparecimento de Eduardo Campos, um político carismático e que resultou de um alegado acidente aéreo. Digo "alegado", pois vejo que no vossa imprensa já se começa a falar da possibilidade de atentado. Quero então dizer-vos que o que aconteceu com Eduardo Campos tem semelhanças assustadoras com algo que também já aconteceu com um político português e que teve lugar há mais de 30 anos! Um avião Cessna caiu numa zona habitacional nos arredores de um aeroporto, causando a morte de todos os sete ocupantes. Isso teve lugar em plena campanha de eleição presidencial e testemunhas falam de "bola de fogo" "bola de fogo" no ar e de um avião que vinha já a arder antes de embater no solo. As gravações das comunicações entre piloto e torre de controlo são inconclusivas e não há o registo de qualquer pedido de auxílio - o usual "Mayday" - da parte do piloto antes do embate fatal. Onde é que isto tudo aconteceu? Aconteceu em Lisboa, na noite de 4 de Dezembro de 1980, quando o avião Cessna que transportava o primeiro-ministro de Portugal, Francisco Sá Carneiro, despenhou-se pouco depois de ter descolado do aeroporto de Lisboa. Ia a caminho do Porto, onde era esperado para discursar numa acção de campanha de apoio ao seu candidato a Presidente da República, Soares Carneiro. O avião caiu no bairro de Camarate, sendo que, desde então, esta queda ficou conhecido em Portugal como o "Caso Camarate". E esse é hoje, caros irmão brasileiros, o vosso "Caso Boqueirão". Juntamente com o primeiro-ministro, figura bastante carismática entre os portugueses, morreram ainda o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, e o chefe de gabinete do primeiro-ministro, António Patrício Gouveia. Faleceram igualmente as esposas dos governantes, Snu e Manuela, e os dois pilotos do aparelho, Jorge Albuquerque e Alfredo Sousa. Ao fim de mais de 30 anos de investigação, a justiça portuguesa encerrou o caso sem que tivesse encontrado uma explicação lógica para o que teria levado à queda do aparelho. Entretanto, face às dúvidas de acidente ou atentado, o Parlamento português realizou várias comissões parlamentares de inquérito. Em 2004, a oitava comissão concluiu que houve uma explosão a bordo, provocada por um engenho colocado na parte dianteira da aeronave, supostamente junto ao trem de aterragem. Em 2012 escrevi um livro intitulado "Camarate - Sá Carneiro e as Armas para o Irão", onde explico que o móbil do atentando poderia estar relacionado com o facto de haver um negócio secreto de tráfico de armas dos EUA para o Irão, usando o território português como plataforma giratória para esse negócio. Sá Carneiro teria mandado investigar e isso levou à sua morte. Por outro lado, ele era uma pessoa que não hesitava em enfrentar poderes muito acima da força internacional de Portugal, pelo que a sua substituição no panorama político nacional levou depois a uma espécie de "harmonização" da vida política e que perdura até hoje. Estive no ano passado no Parlamento português a testemunhar na décima comissão parlamentar de inquérito, que tem agora a tarefa de confirmar se a tese do móbil da rede internacional que levou ao atentado tem sustentabilidade ou não. Vou lendo o que me chega do Brasil e chamo a vossa atenção para a possibilidade de surgir muita desinformação. Vão ser dias difíceis, os próximos, pelo que estejam atentos a tudo o que vos parecer informação credível e que, com o tempo, poderá desaparecer da rede. Como, por exemplo, os primeiros testemunhos que falam de uma explosão do avião no ar e que vinha a arder antes de embater no solo. Há 30 anos, não havia ainda Internet e só existia um único canal de televisão em Portugal e que era controlado pelo Estado. Hoje, com a profusão de canais de informação, podemos pensar que estamos melhor informados. É mentira. Existe é cada vez mais uma grande dispersão da informação e aquela que acaba depois por ficar é somente a que querem que seja a oficial. Por isso, mantenham a memória destes dias, pois sabe-se lá se daqui a 30 anos ainda vamos estar a discutir detalhes do que aconteceu na semana passada.

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20140807

Coisas novas

Fez ontem 11 anos que comecei este blogue. Como "prenda" atrasada para os leitores deixo-vos um fotografia que explica muito sobre a recente solução que o Governo e o Banco de Portugal encontraram para o caso BES. É uma foto da última reunião do Conselho de Estado, que teve lugar no dia 3 do passado mês de Julho. O tema da reunião foi "Situação económica, social e política, face à conclusão do Programa de Ajustamento e ao Acordo de Parceria 2014-2020 entre Portugal e a União Europeia para os Fundos Estruturais" e cuja conclusão foi:"Face à seriedade das exigências que o País enfrenta, o Conselho de Estado exorta todas as forças políticas e sociais, no quadro da diversidade e pluralidade democrática, a que preservem entre si as pontes de diálogo construtivo e a que empenhem os seus melhores esforços na obtenção de entendimentos quanto aos objetivos nacionais permanentes, fator decisivo da confiança e da esperança dos portugueses". Atente-se então ao que a fotografia nos permite registar. Está ali, no lado esquerdo da foto, um conselheiro de Estado que foi amigo pessoal do dono do banco. Zangaram-se há uns anos, quando o banco diminuiu o investimento publicitário no grupo de Comunicação Social desse conselheiro de Estado. No seu lado direito, senta-se um conselheiro que é comentador regular na televisão propriedade desse conselheiro de Estado. E foi nessa televisão que o comentador avançou publicamente com as medidas que o Banco de Portugal estava a preparar para a criação de um "novo banco" antes do Banco de Portugal anunciar, no domingo à noite, dia 3 de Agosto, a criação do "Novo Banco". À esquerda do conselheiro de Estado dono da televisão está sentado o conselheiro que, no dia seguinte a este conselho de Estado, deixou este posto para ocupar o cargo de presidente do BES. No lado esquerdo deste último está outro conselheiro de Estado que também faz comentários na televisão, é companheiro de uma administradora do BES e confesso amigo pessoal do antigo presidente do banco. Na foto estão ainda a Presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro e secretário-geral do segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativas. À cabeceira da mesa está a pessoa que, por fim, no domingo, assinou a lei que permitiu que tudo fosse possível.

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