20120330

Outros tempos, outras manifestações

20120328

Sustenta Pereira

Ao recordar António Tabucchi, que nos deu livros únicos como "Afirma Pereira" e "A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro", veio-me à memória uma pequena história que soube há uns anos relacionada com a edição portuguesa da obra "Afirma Pereira". Não sei se é inédita, mas como não me recordo de a ter lido antes, partilho-a. O título original da obra "Afirma Pereira", em italiano, é "Sostiene Pereira"...



Gosto do som da palavra italiana "sostiene". Aquele "tiene" depois do "sos", que nos faz enrolar a língua e termina de forma musical, é bonito. A correspondência em português existe de duas formas: "Sustenta" e "Afirma". Como se sabe, esta última foi escolhida para a tradução em português, mas o "Sustenta" estaria igualmente correcto. Contaram-me que, quando o livro foi traduzido para português, chegou a estar mesmo previsto que o título seria a tradução mais aproximada do original italiano, ou seja, "Sustenta Pereira". Contudo, já perto da data da impressão, a decisão final acabaria por cair no "Afirma Pereira". Não vou discutir a opção, pois qualquer uma delas parece-me bem. Se calhar, até posso defender a solução escolhida, apesar de distante do original italiano, poderá ser a mais adequada à sonoridade portuguesa, pois tem ali um ar musical no "afi". É mais sonora do que um profundo "Sustenta". Quando ficou decidido finalmente que o título final seria "Afirma Pereira", houve que mudar no miolo do livro a expressão que dá o título e que percorre todo o texto da obra, substituindo-se os vários "sustenta Pereira" pelos "afirma Pereira". E, na altura, foi-se ao corrector automático do documento de texto no computador e fez-se a operação: onde se lê: "sustenta", mudar para: "afirma". Um toque de tecla, e pronto, já está! E assim se escreveu a história de um título mítico da literatura mundial, com direito a adaptação ao cinema naquele que foi um dos últimos filmes do grande actor italiano Marcello Mastroianni e, cujo início, tem lugar no jardim de S. Pedro de Alcântara...



Só que esta história não termina aqui... Estava a obra já a ser impressa, ou prestes a entrar para a gráfica - não consegui ainda confirmar este detalhe - quando alguém reparou num grave erro: A mudança da palavra "sustenta" para "afirma" provocara uma frase ridícula! Era uma frase onde se fala de filhos e de uma pessoa que os "sustenta" financeiramente. Pois é, já estão a ver no que deu: em vez de "é ele que os sustenta", ficou: "é ele que os afirma"! Ao que parece, o erro foi corrigido a tempo, mas se tiverem por aí uma primeira edição, procurem a ver se afinal passou ou não!

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20120326

Uma explicação sobre o Chiado, 2012

No texto anterior analisei o vídeo da agressão à jornalista da AFP, Patrícia Melo Moreira, no Chiado, no passado dia 22. Na legenda da "Imagem 3", fiz notar o momento em que um jovem se baixa e, quando se levanta, surge ao mesmo tempo no ecrã as pernas de uma cadeira...



Embora tivesse tido depois o cuidado de explicitar que não se podia confirmar nas imagens se o jovem atirara ou não aquela cadeira contra a polícia, ficou presente na minha análise pessoal que ele era um elemento "provocador" e concluí depois que o mesmo jovem correra em direcção ao cordão policial e utilizara a jornalista como "escudo humano". E acrescentei que isto aconteceu numa altura em que Patrícia Melo Moreira estava a fazer o seu trabalho, ou seja, a tirar uma fotografia ao cordão policial. Achava eu que isto tudo acontecera antes da jornalista ser atacada pela bastonada do polícia, momento esse que ficou depois fixado na imagem que iria correr o mundo e mostrar a violência policial contra jornalistas que fazem a cobertura das manifestações. E conclui assim que a jornalista foi uma vítima inocente de um acto provocado por um manifestante, sendo esse o verdadeiro "alvo" da violência da polícia...

Totalmente errado!


Fui alertado na minha caixa de comentários por um leitor deste blogue - obrigado, Fernando - para analisar com redobrada atenção o momento em que o jovem se baixa. Disse-me para olhar com mais atenção para a cadeira, vendo o que se passava do lado do cordão policial. E, de facto, nessa segunda leitura, reparei que, afinal, a cadeira estava já junto do cordão policial e era afastada por um agente da autoridade no momento em que o jovem se levantava e resurgia na imagem do vídeo.

Quero então frisar aqui que aquela cadeira não tem qualquer relação com o jovem. Foi erro meu. Peço humildemente desculpa ao meus leitores.

Envergonhado por este grave erro de observação, procurei ver com mais cuidado o que levara então o jovem a baixar-se. E, de facto, está lá, límpido e claro - sem a "ilusão de óptica" da cadeira - que o jovem fora ajudar a jornalista Patrícia a levantar-se, pois esta estava caída no chão. Quando reparei nesse detalhe, tentei perceber qual o motivo que me levara a descurar o momento. Como podia eu ter descurado a altura em que o jovem ajudou a Patrícia a levantar-se do chão? Fui então ouvir de novo as declarações da jornalista, transmitidas "a quente" na SIC, onde ela disse o seguinte:

Eu não me apercebi muito bem do que se passou quando lá cheguei… Eu estava a enviar o meu trabalho perto dos Armazéns do Chiado quando… com o José Goulão [jornalista da Lusa], quando nós começámos a ver várias carrinhas da polícia de choque na rua Garret a chegarem e bastantes polícias a subirem a rua. Entretanto, demos uma corrida até ali perto da pastelaria Benard e quando lá chegamos já havia esses confrontos entre os manifestantes e os polícias. Fizemos o nosso trabalho, começámos a fotografar, e o que se deu foi que os manifestantes foram recuando até quase à entrada do metro do Chiado e os polícias ficaram entre, com a esplanada, entre os manifestantes e os polícias e foi aí que se deu essa confusão toda que começaram a varrer literalmente a esplanada atirarem cadeiras, mesas, tudo, para cima dos manifestantes e para o lado, para todo o lado, e foi nesse momento que um polícia interage comigo, me manda ao chão e, depois de eu estar no chão, eu tento me levantar e identificar com o cartão de Imprensa e é aí que ele… eu vou direita a ele para lhe mostrar o cartão e ele aí manda-me ao chão de novo, e começa-me a bater com o cassetete, e foi depois aí que o manifestante interviu e me veio ajudar a levantar e recuar para junto dos outros manifestantes…

Deste modo, Patrícia Melo Moreira nunca disse que o jovem que surge na fotografia da sua agressão, aquele que a agarrara pelas costas, aquele que a puxara para trás e que a fizera rodopiar num "bailado" perante a agressão do polícia, perpetuados na fotografia que correu o mundo, afinal já a ajudara a levantar-se numa primeira vez. Não quero estar a insinuar que a jornalista omitiu isto de propósito. Aquelas são, note-se, declarações "a quente". A voz da jornalista denota ainda a emoção dos acontecimentos. E, frise-se, quando somos os protagonistas, as nossas sensações guardam momentos mais amplificados e outros menos precisos. E foi precisamente por perceber isso que a minha interpretação dos factos não foi a mais correcta. Por não saber que o jovem ajudara a Patrícia por duas vezes num curto espaço de tempo - quando a ajudou a levantar-se do chão e quando a agarrou pelas costas - não associei naquele acto de baixar-se com a primeira ajuda que deu à Patrícia.
Entretanto, já depois de ter descoberto estes meus graves erros de interpretação, fui ver outros vídeos. E, deste modo, consegui ver uma história mais completa e cronologicamente válida que levou a esta foto e, inclusive, o que se seguiu pouco depois de ter sido tirada...



Assim, a nossa história começa no Rossio quando se inicia a marcha da CGTP em direcção à Assembleia da República. Os organizadores gostam deste percurso porque, como as ruas são estreitas, formam-se filas mais compactas e dão logo a sensação de que há muita gente na marcha. Isso pode proporcionar fotografias mais positivas para a organização. Se partissem do Marquês de Pombal, subindo ao Largo do Rato, só tinham essa imagem na Rua de S. Bento, ou seja, quase no fim da manifestação. Assim, ao fazerem o percurso pelo Rossio e subindo a rua Garret, os jornais podem ter as fotos mais cedo. E, quando a manifestação da CGTP chegou à zona das esplanadas, Patrícia Melo Moreira e José Goulão estavam a mandar fotos junto aos Armazéns do Chiado, no fundo da rua.


Este é momento em que os manifestantes da CGTP estão na rua Garret, em marcha ordeira, sem qualquer incidente (foto publicada no seu "site" oficial da greve da CGTP)...

Só que quando a marcha ordeira da CGTP chegou à zona da esplanada da pastelaria Benard, os manifestantes não seguiram em frente, para o Chiado, em direcção ao Largo do Camões...
Não. A marcha da CGTP virou depois à direita, na rua Serpa Pinto.
E o que fez a polícia? Fechou a rua.
A polícia fechou a rua Serpa Pinto e não deixou outros manifestantes seguirem na marcha "oficial" da CGTP. Assim, para trás, no cruzamento entre a rua Serpa Pinto e a rua Garret, ao lado da Livraria Sá da Costa, junto à pastelaria Bernard, ficaram os elementos "indesejáveis" à CGTP. Estes eram os jovens conotados com movimentos anarquistas, os "anónimos" ou cidadãos solidários com a greve, mas não identificados com grupos sindicais ou políticos. E, claro, rebentou a confusão: insultos e objectos arremassados. Cabeças partidas. De acordo com as palavras de Patrícia, foi nesse momento que ela e o jornalista da Lusa subiram a correr em direcção à esplanada da pastelaria Benard:

"Entretanto, demos uma corrida até ali perto da pastelaria Benard e quando lá chegamos já havia esses confrontos entre os manifestantes e os polícias. Fizemos o nosso trabalho, começámos a fotografar".

Esta terá então sido uma das fotografias que a jornalista da AFP tirou quando lá chegou e que confirma o relato cronológico dado ainda "a quente", pois vemos os polícias na esquina da rua Serpa Pinto com a rua Garret. Repare-se então que o polícia que vai agredir Patrícia está também neste grupo. É o agente um pouco mais recuado, de colete, mas ainda assim perfeitamente identificável com os óculos escuros...



E, para perceber o ambiente tenso que então se vivia, vemos este primeiro filme, captado precisamente nesse local, onde também podemos reconhecer o jovem que irá, daí a pouco, ajudar a jornalista Patrícia Melo Moreira a levantar-se...





Assim, de acordo com as imagens deste primeiro filme, a polícia saiu depois da esquina da rua Serpa Pinto em carga e juntou-se aos elementos das forças anti-motim que, entretanto, subiram a rua Garret para uma primeira carga policial. Foi essa carga que "limpou" a área da esplanada da pastelaria Benard. Nesse momento, a jornalista da AFP tirou uma fotografia onde se vê o jovem que depois a vai ajudar a ser corrido à bastonada pela polícia e, num plano mais aproximado, está também o tal polícia que a irá agredir...



A jornalista da AFP continuou a fazer o seu trabalho até ao meio das esplanadas, conforme se pode ver nesta sua outra (excelente, diga-se) foto...



E, analisando de novo as declarações de Patrícia, o que aconteceu depois foi o seguinte:

"E o que se deu foi que os manifestantes foram recuando até quase à entrada do metro do Chiado e os polícias ficaram entre, com a esplanada, entre os manifestantes e os polícias e foi aí que se deu essa confusão toda que começaram a varrer literalmente a esplanada atirarem cadeiras, mesas, tudo, para cima dos manifestantes e para o lado, para todo o lado, e foi nesse momento que um polícia interage comigo, me manda ao chão".

Sendo assim, quando a Patrícia estava no chão, o jovem foi ter com ela e ajudou-a a levantar-se. A jornalista correu depois em direcção ao polícia com a finalidade de se identificar, mas o jovem vai atrás dela para a puxar e tudo acontece de forma tão rápida que a jornalista é novamente agredida. Foi então que o fotógrafo da Reuters, Hugo Correia, captou a sequência da agressão a Patrícia, onde esta é puxada por detrás pelo mesmo manifestante que fotografara, e, ambos, ao rodopiarem, caem no chão, com Patrícia a bater no degrau da esplanada da Brasileira. Se tivesse sido um pouco mais atrás, o embate poderia ter sido com a cabeça. E Patrícia descreveu este momento dramático da seguinte forma:

"Eu vou direita a ele [polícia] para lhe mostrar o cartão e ele aí manda-me ao chão de novo, e começa-me a bater com o cassetete, e foi depois aí que o manifestante interviu e me veio ajudar a levantar e recuar para junto dos outros manifestantes…



Segue-se depois a segunda carga policial, aquela que vai varrer a esplanada da Brasileira e que está no "site" do "Expresso". Não há dúvidas quanto à ordem cronológica desta acção, pois o local da carga está bem identificado pela estátua de Fernando Pessoa e da famosa cadeira que faz parte do conjunto da mesmo e que um manifestante tenta pegar...

O vídeo do "Expresso".

Ora, neste filme do "Expresso", vemos ainda a jornalista Patrícia já depois da agressão, ao lado do jornalista da Reuters. E, quando a polícia anti-motim começa a aproximar-se, o que acontece? O mesmo jovem que já a ajudara por duas vezes, vem ter com ela, dá-lhe um toque no braço e fá-la correr atrás dele. É a cena final deste terceiro vídeo...




Por fim, já a chegar em segurança, ao Largo do Camões, a jornalista da AFP, faz, finalmente, estas fotos já depois da agressão...


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20120323

Chiado, 22 de Março de 2012

Da greve geral de ontem, duas imagens captadas pela câmara do jornalista da Reuters, Hugo Correia, correram o mundo, mostrando a polícia portuguesa a agredir uma jornalista da AFP, Patrícia Melo, durante o seu trabalho de reportagem...



Quem olha para as imagens vê um acto de violência gratuita: um polícia usa um bastão para agredir uma jovem jornalista que é ajudada por um jovem.
E, esta manhã, vi o vídeo que regista o momento...



O vídeo permite ter uma ideia do que se terá passado antes desta agressão. Ao olhar com alguma atenção, reparei numa história que poderá ter uma interpretação diferente daquela que correu o mundo. Não quero desculpar a violência policial, mas não estou totalmente convencido de que o objectivo do polícia fosse atingir a jornalista.
Porquê? Por causa disto:

Imagem 1 - Reparem no centro do ecrã, assinalado a vermelho: este é o jovem que irá ajudar a jornalista. Ele atravessa a zona do Chiado, vindo da esquerda para a direita do ecrã, passando em frente do cordão policial...



Imagem 2 - Aqui, o jovem desaparece por completo do ecrã. Porquê? Porque baixou-se e está tapado pelo jornalista da Reuters, Hugo Correia, na zona assinalada a vermelho...



Imagem 3 - O jovem levanta-se e aparece no ecrã. Ao mesmo tempo que o faz, a imagem mostra, ao nível do seu corpo, as pernas de uma cadeira ou de uma pequena mesa. A cabeça do jovem e as pernas do objecto estão aqui assinaladas a vermelho...



Imagem 4 - As imagens não permitem depois confirmar se o jovem atirou ou não o objecto contra a polícia, provocando assim uma reacção. Mas, vemos que corre em direcção ao cordão policial. O jovem está assinalado a vermelho. E, atrás dele, assinalado a verde, surge a jornalista Patrícia Melo...



Imagem 5 - Embora as imagens não o permitam ver, o jovem contornou depois a jornalista e escondeu-se atrás dela, usando-a como se fosse um "escudo humano". A jornalista tem a câmara apontada para a polícia...



Imagem 6 - Enquanto o jovem usa a jornalista como "escudo humano", o polícia, assinalado a amarelo, vem a correr para ambos...



Imagem 7 - Veja-se que o jovem intuiu que é ele o alvo do bastão da polícia, pois foi um elemento "provocador". Baixa-se atrás da jornalista, agarrando-a pelos braços. A jornalista julga que ele a ajuda, mas, na realidade, foi o jovem que levou a polícia até ela. E ela, nesse momento, protege-o...



Imagem 8 - E, neste momento, o jornalista da Reuters capta a imagem que irá correr o mundo, onde parece que um polícia está bater numa jornalista e que um jovem corre para a ajudar, quando, na realidade, o polícia ia atrás do rapaz...



Imagem 9 - E, depois de bater, o polícia afasta-se imadiatamente e corre para o meio do cordão policial. A azul, está o repórter da Reuters...



Não quero, com isto justificar a violência policial. Acho perigoso um estado policial, mas, como jornalista, se no futuro quiser ter razão para criticar o trabalho da polícia, tenho também de ser capaz de apontar o que não me parece ser a interpretação mais correcta de um determinado facto.
É apenas isso.

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Beirute, 1985

20120322

França, 2012

Perguntaram-me a opinião sobre o que se passou hoje em França. O jovem argelino era mesmo um terrorista? Foi realmente morto depois de ter disparado contra a polícia, que agiu em legítima defesa? Foram realizados todos os esforços para o apanharem vivo e ir a julgamento? Afinal, confessou ou não os crimes? A quem? Que credibilidade tem essa confissão? Que provas havia contra ele? Podemos acreditar que foi mesmo ele quem matou as crianças na escola judaica ou seria um "bode expiatório"? Até que ponto tudo isto não foi preparado por uma facção dos serviços secretos franceses para promover a reeleição do Presidente Sarkozy? Podemos comparar estes acontecimentos àqueles que, a 11 de Março de 2004, levaram à vitória do PSOE em Espanha e que, ainda hoje, oito anos volvidos, suscitam dúvidas?
Sou jornalista em Portugal e pouco ou nada sei, mas uma coisa vos garanto: se fosse em Portugal não deixaria de investigar estas questões. É isso que tenho vindo a fazer com outros casos. E conto, como sempre, com a ajuda de quem quer saber respostas, que são os meus leitores.

P.S. Sim, no meu perfil acrescentei alguns dados novos: está ali o meu NIB e IBAN. Agradeço donativos de qualquer valor. O trabalho passado é a única garantia que posso dar de que o donativo será merecido. O trabalho futuro dependerá da generosidade dos donativos. Obrigado.

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20120320

Lembrança mental: estar atento...

... ao destino de Muammar Gaddafi's former intelligence chief Abdullah al-Senussi... Ele sabe o que se passou em Lockerbie.

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20120319

O tesouro de Guimarães

Ainda pensei que, quando o semanário Sol publicou no início deste mês uma grande entrevista ao comandante Alpoim Calvão sobre a sua "vida aventurosa", iria aproveitar o facto da cidade de Guimarães ser este ano Capital Europeia da Cultura, para nos dar um bom momento jornalístico, histórico e cultural e, finalmente, esclarecer o que aconteceu ao tesouro de Guimarães, roubado a 16 de Novembro de 1975, dias antes do golpe do dia 25...


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E foi há 9 anos que Júnior deu uma prenda ao pai...

20120317

Faz hoje 10 anos...

... que tiveram lugar as eleições legislativas antecipadas de 2002, aquelas que resultaram da demissão de António Guterres e permitiram a chegada ao poder de Durão Barroso.
Não me parece que muitos se tenham lembrado hoje da data redonda do 17 de Março de 2002, mas vejo aí a origem dos actuais problemas políticos. As eleições foram a consequência da demissão antecipada de Guterres que, na noite das eleições autárquicas de Dezembro de 2001, resolveu bater com a porta e deixar-nos no "pântano"...



António Guterres fugiu às suas responsabilidades, pois apesar de não ter maioria parlamentar, tinha reforçado, em 1999, a votação em relação a 1995 e dispunha de um mandato de governo para quatro anos. Mas, optou por fugir. Recordo-me da confusão no PS por causa dessa saída antecipada. Lembro-me de Jaime Gama apresentar a candidatura à liderança do partido...



... e de no dia seguinte dizer que, por motivos pessoais, afinal já não podia...



Com a saída de Jaime Gama apareceu Ferro Rodrigues...



As eleições de há 10 anos não deram a maioria absoluta a Barroso, pelo que teve de fazer uma coligação com o líder do CDS, Paulo Portas. Em Novembro daquele ano de 2002 rebentava o escândalo da Casa Pia, que, em 2003, levaria à prisão preventiva do nº2 de Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso. O próprio Ferro Rodrigues não escaparia às suspeitas de pedofilia, contudo, apesar dos ataques, conseguiu uma vitória política para o PS ao vencer as eleições europeias de 13 Junho de 2004, no dia seguinte ao início do Euro2004, no Estádio do Dragão, no Porto, quando Portugal perdeu 2-1 contra a Grécia no jogo de abertura. Durão Barroso aproveitou a distração provocada pela euforia do Euro2004 para, tal como Guterres, sair a meio de um mandato. Foi viver longe daqui, nos salões de Bruxelas e palcos internacionais. Deixou um governo com Santana Lopes e Paulo Portas, mas o Presidente Jorge Sampaio não convocou eleições antecipadas quando podia e isso provocou a demissão de Ferro Rodrigues. Sampaio esperou depois pelas eleições internas no PS, feitas para a vitória de José Sócrates e, antes que este perdesse o "estado de graça", criou um discurso para justificar a demissão da coligação PSD/CDS, apesar da mesma ter a confiança da maioria do Parlamento. E assim chegámos a Sócrates. E assim tivemos quatro anos de maioria absoluta socialista e assim tivemos, no PSD, as lideranças efémeras de Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, Manuela Ferreira Leite e, finalmente, quando já se tinha tentado quase tudo no PSD, o antigo "jota" Pedro Passos Coelho. Deste modo, com José "Freeport" "Independente" "BPN" "PEC" Sócrates caído em desgraça, chegámos ao actual governo. Chegámos à actual conjuntura político-financeira. Foram 10 anos de tempo perdido, onde, pelo meio, elegemos e reelegemos o primeiro-ministro que, há 25 anos, ganhou a primeira maioria absoluta do PSD e, apesar de ter tido na mão todos os instrumentos financeiros e a legitimidade política para os aplicar em projectos sólidos com fundos europeus, queimou a agricultura, afundou as pescas, esqueceu o tecido produtivo nacional e promoveu o novo-riquismo, dando-nos o País com o povo que agora temos e que ele tanto critica.
Por isso, nestes 10 anos que hoje se celebram, só tenho uma coisa a dizer: Parabéns a todos!

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20120315

O "puto"

Quando eu andava na escola secundária Carolina Michaelis, no Porto, havia um pequeno campo da bola, mas aquilo só podia ser usado pelas turmas que iam às aulas de ginástica. Assim, para jogarmos tínhamos o pátio interior. As balizas faziam-se com as pastas que eram amontoadas. Aquela era uma escola secundária igual a tantas outras – embora esta tenha ficado tristemente famosa a nível nacional, há uns anos, por causa da aluna que desatou ao berros a exigir à professora que lhe devolvesse o telemóvel. Quando lá andava, ainda não havia telemóveis. Naquela altura, o muro de Berlim estava prestes a cair e o FC Porto acabara de ganhar a Taça dos Campeões com o golo de calcanhar de Madjer e o remate final do Juary, com que derrotara o Bayern de Munique na final de Viena. E todos nós sonhávamos ser jogadores da bola e, tal como o Futre, ir ganhar dinheiro no estrangeiro, mesmo a dormir. E lá andava eu, a jogar à bola de vez em quando e a ir treinar na equipa de iniciados lá da zona. Não posso dizer que jogasse bem. Não tinha grande técnica, mas corria rápido e acho que até sabia desmarcar-me e receber e despachar uma bola em condições. Fazia bons cortes de bola e não fugia à luta. Mas, lembro-me em particular de um puto que estava sempre a correr. Recordo-me principalmente do facto de estar sempre suado. Era mais baixinho do que eu, que sempre fui de um tamanho médio. No entanto, o “puto” era aguerrido, lutador. Eu era um tipo certinho, pois só costumava jogar à bola quando tinha um “furo” no horário. O “puto”, contudo, parece que estava sempre a faltar às aulas para ir jogar à bola no pátio. Às vezes, estava eu a entrar da aula ou a sair e olhava lá de cima e lá estava ele, no seu jeito rápido de jogar e sempre a chutar a bola, a fintar e a correr atrás dela. Como corria! Lembro-me que todos nós gostávamos do “puto”e nunca vi a causar qualquer tipo de problemas. Uma vez soube que ele iria começar a treinar numa equipa de juniores, que era uma categoria que não havia no clube da minha zona. Perguntei-lhe onde eram os treinos e combinei ir com ele. Eram no campo dos Ferroviários, ao lado da estação de Campanhã. Para quem não conhece o Porto, digo-vos que aquilo ficava do lado oposto da minha área de residência, na Boavista, e se não havia telemóveis, também ainda não havia metro. Os autocarros eram mais raros à noite o que se tornava complicado para cumprir horários em casa, pois os treinos começavam ao fim da tarde. Fui ter com o “puto” e a imagem que retenho na memória é a de chegar a um lugar escuro perto da estação. Era a primeira vez que via a estação à noite. Era triste e fria. Uma pequena luz iluminava o campo e “puto” fez-me sinal assim que o vi e apontou para o treinador. Fui falar com ele, mas o plantel já estava completo e não havia lugar para mim. Vim-me embora, nunca mais lá voltei e não fui jogar à bola numa equipa de competição. Passei a ir jogar aos domingos de manhã na a praia de Leça. O “puto”, esse, ficou por lá a jogar à bola e a correr muito. O “puto” tinha um nome. Eu chamava-o Sá. Lá na escola toda a gente o chamava Sá. Vocês também o conhecem: é o Ricardo Sá Pinto.

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20120312

Para as "Lumenas" deste País

Quando quiserem saber mais sobre o que se passou em Lockerbie, informo que já recebi o livro que John Ashton escreveu...





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20120311

"Jornal do Incrível" está agora no digital

Sei que este blog tem andado parado, mas enquanto não fica mais activo, visitem a versão digital do "Jornal do Incrível". Notícias credíveis e em liberdade absoluta!

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20120303

Um País assim

Imagine um País algures no centro de África. O sistema político desse Estado é República democrática. Contudo, isso é apenas uma fachada para justificar a integração na cena mundial, pois a Imprensa pública, é até a privada, é completamente orientada pelo Estado. O sistema de partidos beneficia apenas aqueles que o Estado permite ter visibilidade para criar as farsas eleitorais com que evita as sanções de observadores independentes. O Presidente desse país tem nas mãos o sangue de outros políticos e sempre beneficiou os militares, cujos negócios obscuros envolvem tráfico de armas e droga. O primeiro-ministro é escolhido por si. O sistema financeiro está nas mãos do Presidente, que usa o dinheiro dos impostos para financiar bancos de amigos com ligações a mafiosos internacionais. Esse mesmo país é ainda financiado na sua indústria por ditaduras estrangeiras que exploram áreas vitais da sobrevivência de uma Nação, como é o caso dos recursos energéticos. Os cidadãos, vergados ao peso dos impostos, estão controlados pelas autoridades policiais, corruptas e mal pagas. O sistema de Justiça não funciona e há suspeitos de crimes que aparecem suicidados dentro de prisões. Os velhos morrem de frio, sem dinheiro para medicamentos e são enterrados com a mesma justificação médica: morte natural. Os mais jovens são escravos ou emigram. As escolas não ensinam, apenas tentam manter as crianças dentro das salas de aula enquanto cumprem o tempo de instrução obrigatória para que o País possa ser considerado digno de pertencer à comunidade internacional, que permite a farsa e continua a manter uma base militar em seu território. Agora, pergunto: acham que conseguiriam viver num País assim?