20081230

Ética Republicana

20081229

Não se esqueçam do 29 de Dezembro de 2008

Desta vez, não preciso explicar o que disse Cavaco Silva. Desta vez, falou claro. Ficou claro que esta é a República que ele não escolheu. Nem ele nem muita gente... Lá está, falta Democracia a Portugal...

Declaração do Presidente da República sobre a Promulgação do Estatuto Político-Administrativo dos Açores
Palácio de Belém, 29 de Dezembro de 2008



"A lei que aprovou a revisão do Estatuto dos Açores, que tinha sido por mim vetada, foi, no passado dia 19, confirmada pela Assembleia da República sem qualquer alteração.

Isto é, não foram acolhidas, pela maioria dos deputados, as duas objecções que por mim tinham sido suscitadas.

É muito importante que os portugueses compreendam o que está em causa neste processo.

Este não é um problema do actual Presidente da República.

Não é tão-pouco uma questão de maior ou menor relevo da autonomia regional.

O que está em causa é o superior interesse do Estado português.

O Estatuto agora aprovado pela Assembleia da República introduz um precedente muito grave: restringe, por lei ordinária, o exercício das competências políticas do Presidente da República previstas na Constituição.

De acordo com uma norma introduzida no Estatuto, o Presidente da República passa a estar sujeito a mais exigências no que toca à dissolução da Assembleia Legislativa dos Açores do que para a dissolução da Assembleia da República.

Nos termos da Constituição, a Assembleia da República pode ser dissolvida pelo Presidente da República ouvidos os partidos nela representados e o Conselho de Estado.

Para dissolver a Assembleia Legislativa dos Açores, o Presidente da República terá que ouvir, para além dos partidos nela representados e o Conselho de Estado, o Governo Regional dos Açores e a própria Assembleia da Região.

Trata-se de uma solução absurda, como foi sublinhado por eminentes juristas.

Mas o absurdo não se fica por aqui.

A situação agora criada não mais poderá ser corrigida pelos deputados.

Uma outra Assembleia da República que seja chamada, no futuro, a uma nova revisão do Estatuto vai estar impedida de corrigir o que agora se fez.

Isto porque foi acrescentada ao Estatuto uma disposição que proíbe a Assembleia da República de alterar as normas que não tenham sido objecto de proposta feita pelo parlamento dos Açores.

Quer isto dizer que a actual Assembleia da República aprovou uma disposição segundo a qual os deputados do parlamento nacional, que venham a ser eleitos no futuro, só poderão alterar aquelas normas que os deputados regionais pretendam que sejam alteradas.

Os poderes dos deputados da Assembleia da República nesta matéria foram hipotecados para sempre.

Como disse, não está em causa qualquer problema do actual Presidente da República.

A Assembleia Legislativa dos Açores, em 30 anos de autonomia, nunca foi dissolvida e não prevejo que surjam razões para o fazer no futuro.

O que está em causa é uma questão de princípio e de salvaguarda dos fundamentos essenciais que alicerçam o nosso sistema político.

E não se trata apenas de uma questão jurídico-constitucional. É muito mais do que isso.

Está também em causa uma questão de lealdade no relacionamento entre órgãos de soberania.

Será normal e correcto que um órgão de soberania imponha ao Presidente da República a forma como ele deve exercer os poderes que a Constituição lhe confere?

Será normal e correcto que a Assembleia da República imponha uma certa interpretação da Constituição para o exercício dos poderes presidenciais?

É por isso que o precedente agora aberto, de limitar o exercício dos poderes do Presidente da República por lei ordinária, abala o equilíbrio de poderes e afecta o normal funcionamento das instituições da República.

O exercício dos poderes do Presidente da República constantes da Constituição não pode ficar à mercê da contingência da legislação ordinária aprovada pelas maiorias existentes a cada momento.

Por que é que a Assembleia da República não alterou o Estatuto apesar de vozes, vindas dos mais variados quadrantes, terem apelado para que o fizesse, considerando que as objecções do Presidente da República tinham toda a razão de ser?

Principalmente, quando a atenção dos agentes políticos devia estar concentrada na resolução dos graves problemas que afectam a vida das pessoas?

Foram várias as vozes que apontaram razões meramente partidárias para a decisão da Assembleia da República.

Pela análise dos comportamentos e das afirmações feitas ao longo do processo e pelas informações que em privado recolhi, restam poucas dúvidas quanto a isso.

A ser assim, a qualidade da nossa democracia sofreu um sério revés.

Nos termos da Constituição, se a Assembleia da República confirmar um diploma vetado pelo Presidente da República, este deverá promulgá-lo no prazo de 8 dias.

Assim, promulguei hoje o Estatuto Político-Administrativo dos Açores.

Assumi o compromisso de cumprir a Constituição e eu cumpro aquilo que digo.

Mas nunca ninguém poderá alguma vez dizer que, confrontado com o grave precedente criado pelo Estatuto dos Açores, não fiz tudo o que estava ao meu alcance para defender os superiores interesses do Estado.

Nunca ninguém poderá dizer que não fiz tudo o que estava ao meu alcance para impedir que interesses partidários de ocasião se sobrepusessem aos superiores interesses nacionais.

Como Presidente da República fiz, em consciência, o que devia fazer".

Acho que, para mim, que tanto faz, para ser coerente com as palavras, Cavaco devia ter feito uma última coisa: anunciar a sua demissão.

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20081227

O espião chamado Jesus

Quando o NYT disse que, provavelmente, existe um português chamado Jesus que é suspeito de espionagem, lembrei-me de uma anedota do Vuillemin:

Um pregador caminha no deserto a anunciar a vinda do Senhor para breve, até que vê, ao longe, um casal. A mulher vai montada num burro e está grávida. Corre até eles e, entusiasmado, pergunta-lhes:
- Como se chama a senhora?
- Maria.
- E você, o marido dela?
- José.
-Então isso significa que a criança que ela transporta no ventre é Jesus! - diz o pregador repleto de alegria.
o marido interrompe-o e, zangado, responde:
- Olha lá, tu deves estar enganado!... Nós não somos portugueses!

Ainda me lembro quando, há cerca de uma dezena de anos, durante o festival de BD em Angoulême, tive a oportunidade de dizer pessoalmente ao Vuillemin que, apesar do nome José e Maria serem dos mais comuns em Portugal, já o nome Jesus não o era assim tanto. Ele achou estranho, pois parecia ser mesmo lógico. Se Maria e José são nomes bastante comuns em Portugal, então por que não é Jesus? Expliquei-lhe que há casos, mas são as excepções que confirmavam a regra... Jesus, definitivamente, não é um nome que os portugueses usem amiúde, garanti-lhe.
Por isso é que eu acho que não há qualquer espião português chamado Jesus. Se fosse esse o caso, qualquer um de nós já o teria topado à légua.

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20081226

Ex-citações na pedra

A citação de hoje no "Público" é esta:



Não duvido que alguma vez o Dalai Lama tenha dito esta frase. Eu próprio, às vezes, costumo dizer o mesmo, embora seja uma pessoa com menos importância para que o "Público" se lembre de a citar como sendo minha. Agora, sempre pensei que a frase fosse atribuída a Mahatma Gandhi...

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20081225

Resistir sempre, como nos disse um dia Harold Pinter

Porque hoje é quinta-feira

É sempre bom recorrer aos clássicos para explicar o mundo de hoje. O livro de G. K. Chesterton cumpriu 100 anos em 2008...




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20081223

As sms de Natal

Daqui a pouco os portugueses vão começar a usar os dedos para mandar mensagens de Natal para todos os contactos nos seus telemóveis. Aproveitando experiências passados, sugiro que enviem a seguinte mensagem:

"Não concordo com mensagens despersonalizadas, por isso desejo-te, (escrever aqui o nome do destinatário), um Feliz Natal e um Bom Ano de 2009! Um abraço do teu amigo de sempre (Se não sabe quem sou, significa que apagou o meu contacto. Nesse caso, queira por favor ignorar este desejo. Obrigado)".

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20081222

Clipping

Guardar este e mais este: "A estrutura de poder actual é, basicamente, a estrutura de poder do doutor Oliveira Salazar. É uma estrutura que se mantém e nos asfixia", disse à Lusa Paulo Morais, realçando que, enquanto perdurar esta lógica, "os grandes interesses ficam na mão do grande capital".

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Schiuu, não digam nada a José Sócrates...

... mas o Nicholas Negroponte anda com o exército da Colômbia a distribuir computadores portáteis para crianças.

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Feliz 2009



Quando o Arcebispo da Cantuária tem de questionar a política económica...

"The unprincipled question won't be silenced: what about the particular human costs? What about the unique concerns and crises of the pensioner whose savings have disappeared, the Woolworths employee, the hopeful young executive, let alone the helpless producer of goods in some Third-World environment where prices are determined thousands of miles away?".

Quando ele até avisa sobre as lições que devemos tirar sobre o Nazismo...

"The Archbishop of Canterbury warns today that Britain must learn the lessons of Nazi Germany in dealing with the effects of the recession".

Quando ele já avisara que o plano económico de Gordon Brown era o mesmo de...

"An addict returning to a drug".

É sinal de que devemos ter esperanças, pois ainda há quem se preocupe.

Feliz 2009...

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20081221

John Le Carré ainda sabe como se faz...

Acabei de ler o último de Le Carré...



Ainda me lembro de algo que ouvi pouco depois do 11 de Setembro: "Se gostou da luta contra o comunismo, vai adorar a luta contra o terrorismo". E o escritor britânico explora bem esta ideia, por isso fez-me bem ler isto... ...



E assim se percebe como Guantánamo é um erro e como cada prisioneiro que lá está é a prova de algo falhou.

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20081220

O problema da República da Grécia

Ainda sobre os comentários que tenho recebido - e ouvido - sobre a minha visão do que se passa na Grécia, reproduzo a opinião de um leitor:


"Antes de mais quero agradecer a resposta ao meu desafio de comentário sobre a situação que se vive na Grécia. Tratou-se de um teste, não com efeitos de avaliação de carácter, digamos antes uma radiografia ao que já há algum tempo tenho lido neste e outros blogs. E confirmou as minhas suspeitas. O paciente é definitivamente português até ao tutano.
Se por um lado demonstra e expõe situações que muitos chamariam de bom grado 'teorias da conspiração', tentando investigar e aprofundar os assuntos com objectividade própria de um jornalista, por outro revela uma faceta de preconceito e até 'auto-censura' quando a realidade começa a ter contornos bem definidos e assusta, atemoriza o cidadão menos informado... O que não é o caso! Ambos sabemos que na Grécia estamos a assistir a um levantamento popular desorganizado, não apenas contra a repressão policial, mas contra esta forma deturpada de democracia que lentamente nos foi imposta em substituição da res publica.
Mas compreendo o receio de fazer eco do que se está a passar naquele estado da União Europeia, a contestação e a violência poderia (e vai, a meu ver) extravasar fronteiras e seria o fim dos nossos dias felizes, neste cantinho esquecido da Europa...
É preferivel uma atitude do género
'Eles que se entendam, nós depois logo vemos...'
Um pouco como o tema dos Deolinda: 'Agora não me dá jeito. Eu depois vou lá ter.'
Definitivamente português até ao tutano.
Mas a verdade é que não é isso que me incomoda. O que realmente me incomoda é a imprensa portuguesa, tirando pequenas excepções, não estar sequer a informar-nos em absoluto sobre um Estado que pertence à 'União' Europeia. É um acontecimento absolutamente fora do normal dentro da União Europeia e a cobertura do mesmo é uma constante repetição da noticia da morte do adolescente às mãos da policia e do grupo de 'anarquistas' que andam a pilhar Atenas e a destruir tudo à sua passagem?! JORNALISMO, FRED, JORNALISMO A SÉRIO!!! Porque as pessoas na ignorância podem revoltar-se cegamente contra tudo e todos".



O leitor tem toda a razão. E eu, como jornalista, estou espartilhado. Agora, dentro daquilo que é possível dar a saber, e ainda daquilo que aprendi aqui neste cantinho da Europa, longe de tudo, mas obrigado a ter de conviver com todos os outros países da UE, deixo algumas informações sobre a história recente daquele país. Para que percebam a génese da actual Res Pública grega que, ò coincidência!, começou quando um referendo à monarquia acabou por ser contestado e levou instaurar uma ditadura, os estudantes revoltaram-se e acabaram com o regime dos militares... Pois, é, a Grécia, tão longe e, no entanto, tão perto de nós... E o ontem tão longe, e no entanto tão presente...

In June of 1973 Papadopoulos calls a referendum on the monarchy and the establishment of a parliamentary republic, granting amnesty to many political prisoners, including Alexander Panagoulis, the man who had tried to assassinate him. He appoints himself president, forming a government with veteran politician Spyros Markezinis to lead the country toward elections. The junta seemed to be liberalizing itself though it could not convince the youth who are becoming more outspoken. It is obvious that the plan is for the elections to legalize the dictatorship. In November students begin to gather at the Athens Polytechnic following protests and clashes with police at a memorial service for George Papandreou. From this point on for the youth of Greece it is simple. The government is the enemy and this is war.

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20081219

Morreu o judeu que tramou Nixon

Soube-se hoje que Mark Felt, o homem a quem um dia chamaram de "Garganta Funda", faleceu ontem, aos 95 anos. A verdadeira identidade do homem que, em meados dos anos 70, ajudou a alimentar o escândalo Watergate, só foi revelada há três anos através de um artigo da revista "Vanity Fair". Mas o presidente Nixon soube na altura quem era o traidor que andava a passar informações confidenciais aos jornalistas do "Washington Post". Mais concretamente, soube-o no dia 19 de Outubro de 1972...

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Belo erro

Estou contente. O livro do João, do Rui e do Ricardo - do qual sou autor do posfácio - vai ter uma segunda edição! Se ainda não comprou todas as prendas de Natal, não perca "Os 12 Erros que Mudaram Portugal".Como dizia a velhinha publicidade, todos os portugueses que já o fizeram não podem estar errados...

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Nada se cria

Não se esqueçam da Grécia

Alguns comentadores deste blogue pedem-me uma opinião sobre o que se está a passar na Grécia. Mas, como jornalista, nada posso dizer, pois não fui enviado ao país. Não conheço suficientemente quem está por detrás da real situação. Contudo, se nada opino como cidadão informado é apenas por respeito para com os gregos, que vão ter de resolver o assunto. E nada mais preciso dizer, porque há muito que ando a avisar que quem recusa mudanças pacíficas e democráticas abre as portas à revolução violenta. E esta Europa tem de aprender isso. Tal como avisou há dias um ex-primeiro-ministro português, ex-Presidente da República e ex-eurodeputado, basta uma pequena centelha para se produzir aqui o mesmo que já aconteceu em França e está agora a viver-se na Grécia. Mas, eu vou continuar a lutar para que cá não aconteça o que o Socialista, Laico e Republicano teme que pode vir a acontecer...

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20081218

"Playboy" em Portugal! Haja esperança para o futuro do jornalismo

Recebo com entusiasmo a notícia de que vai haver uma versão portuguesa da revista "Playboy". Se para fazer jornalismo de investigação for necessário juntar conteúdos eróticos, nada contra. Aliás, uma das mais importantes reportagens feitas nos EUA durante os anos 80 e que desencadeou uma investigação no congresso foi publicada na "Playboy"...





"Playboy" de Outubro de 1988, versão norte-americana

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20081217

Nem mais um cêntimo para o petróleo

Para evitar os roubos no abastecimento de gasolina como aqueles que já contei aqui e aqui, faço habitualmente a pré-marcação da quantia. Hoje de manhã fiz a pré-marcação para 30 euros. Quando a operação terminou marcava 30.01 euros. Um cêntimo a mais do que eu pedira. Desta vez não há desculpa. Não me queixei e paguei, pois queria trazer a factura para vos mostrar. Está aqui a prova do roubo...


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Diz não há crise

Ética Republicana? Ou vontade de regressar à Ditadura?

"Sampaio disse ainda que, hoje, 'as democracias estão sobre enorme pressão' e que 'quatro anos podem não chegar para uma boa governação'.

Também Marcelo Rebelo de Sousa admitiu 'querer mais' da democracia. O comentador identificou 'a partidarização da Administração Pública', 'a fraqueza da sociedade civil', 'os vícios do poder local' e a 'educação' como os principais cancros da democracia. Num encontro em que se falou muito de 'liberdade' Marcelo criticou a ERC dizendo que agora, por imposição, está 'habituado a falar 20 minutos'.

As conclusões do debate, ficaram a cargo de Marques Mendes, mas, tal como foi dito pelos presentes, resumem-se na citação de Churchill: 'A democracia é o pior de todos os sistemas, à excepção de todos os outros'


Comentários:

Quando Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, se queixa de que "quatro anos podem não chegar para uma boa governação", está a pedir mais do que Manuela Ferreira Leite. É que ela , ao menos, contentava-se com apenas seis meses de ditadura.

Quando o comentador Marcelo Rebelo de Sousa se queixa de que agora só pode falar durante 20 minutos, diga-se-lhe há muitos portugueses que gostariam de ter a oportunidade de, pelo menos uma vez na sua vida, ter um minuto na televisão do Estado para poder dizer ao país o que pensa em vez da ditadura das conversas de família de Marcelo.

Quanto às conclusões de Marques Mendes, acrescente-se que as mesmas são apenas naturais num país onde ainda não há liberdade para se fazer cumprir a democracia.

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20081216

Pensamento hoje em dia

"Penso, logo prejudico-me"

Português anónimo, estudante de Comunicação Social, séc. XXI

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É preciso conhecer

A editora portuguesa Europa-América lançou um livro "proibido" entre nós: "Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg", do jornalista Daniel Estulin. Para quem não conseguia encontrar a anterior versão publicada pelo Círculo de Leitores, que há muito andava ausente das prateleiras das livrarias, eis a nova oportunidade para ficar a conhecer os verdadeiros senhores do mundo...




E na foto seguinte, que consta do livro, vemos José Sócrates no encontro do Clube de Bilderberg de Stresa, Itália, em Junho de 2004, pouco antes de se tornar primeiro-ministro de Portugal após uma crise política encenada por uma Comunicação Social controlada pelo poder de bilderberg...

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Caramba, até parece que ele nunca foi primeiro-ministro, Presidente da República e Eurodeputado

"Mas o povo pergunta: e as roubalheiras, ficam impunes? E o sistema que as permitiu - os paraísos fiscais -, os chorudos vencimentos (multimilionários) de gestores incompetentes e pouco sérios, ficam na mesma?

(...) E querem depois o voto desses mesmos eleitores, sem os informar seriamente nem esclarecer? É demais! É sabido: quem semeia ventos colhe tempestades...

(...) Nas ruas e universidades da Grécia, há vários dias, os estudantes manifestam-se violentamente, atiram pedras contra a polícia, incendeiam automóveis, provocam distúrbios. Indignação ou houve o pretexto de a polícia ter matado um estudante? Não são, contudo, jovens marginais, filhos de imigrantes, habitantes de bairros problemáticos, como sucedeu, há meses, em França. São filhos da burguesia que está a ser muito afectada com a crise.

(...) Quando há uma crise latente, que fere em consciência as classes médias, qualquer pretexto serve para gerar a revolta.

(...) Portugal também não deve ficar indiferente. Com as desigualdades sociais sempre a crescer, o aumento do desemprego que previsivelmente vai subir imenso, em 2009, a impunidade dos banqueiros delinquentes, o bloqueio na Justiça, e em especial, do Ministério Público e das polícias, estão a criar um clima de desconfiança - e de revolta - que não augura nada de bom. Oiçam-se as pessoas na rua, tome-se o pulso do que se passa nas universidades, nos bairros populares, nos transportes públicos, no pequeno comércio, nas fábricas e empresas que ameaçam falir, por toda a parte do País, e compreender-se-á que estamos perante um ingrediente que tem demasiadas componentes prestes a explodir. Acrescenta-se o radicalismo das oposições, à esquerda e à direita, que apostam na política do 'quanto pior melhor'. Perigosíssima, quando não se apresentam alternativas credíveis..."

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Guia de sobrevivência à bolsa de valores

O semanário "+ Cascais", publicação gratuita dirigida por José Paulo Fafe, dá-nos a grande novidade para enfrentar a actual crise bolsista: Pedro Caldeira vai publicar um guia de sobrevivência! Boa malha, Zé Paulo...

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20081215

Boa pontaria, mas melhores reflexos

O jornalismo dito agressivo foi levado à letra no Iraque e o arremesso certeiro. Mas, George W. Bush, já na hora da despedida, demonstrou que os seus reflexos políticos ainda são superiores à pontaria iraquiana. Servem as imagens para resumir oito anos de uma política norte-americana que vai certamente demorar mais de oitenta anos a ser perdoada e esquecida...

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20081213

Feliz Natal e bom 2009 (se conseguirem...)

Fiquem formalmente notificados os leitores anónimos assim como os melhores amigos que desejo boas festas para todos...

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20081212

Conhecer a República da Irlanda é preciso

Estive recentemente a estudar a história da República da Irlanda, o país que está a condicionar a aprovação do Tratado de Lisboa. Esqueçam as fadas, duendes e o dia de S. Patrício, pois foi com prazer que fiquei a conhecer outros nomes e factos que ignorava por completo. E agora que os sei, sinto-me uma pessoa melhor informada e, logo, melhor preparada. Partilho alguns exemplos com os leitores para que possam dar por ganho o tempo que gastam ao consultar esta página:

No fim do séc. X, na zona Sul do país, em Munster, destacou-se na luta contra os invasores vikings o rei Brian Boru.



Este rei conseguiu derrotar os vikings em 999 e 1002, tendo conquistado o reconhecimento popular como rei da Irlanda. Os vikings, contudo, conseguiram manipular as disputas entre os vários reinos irlandeses e aliaram-se ao rei de Leinster, Máel Morda Mac Murchada. A 23 de Abril 1014, numa Sexta-feira Santa, deu-se a Batalha de Clontarf, que ficou assinalada como um marco na história do país. Esta batalha acabou com a derrota do rei de Leinster e debandada das suas tropas, mas acabaria ainda com o reinado de Brain Boru. O rei foi assassinado por vikings em fuga enquanto rezava no interior da sua tenda. Também na sequência desta histórica batalha irlandesa, morreriam vários filhos de Brian Boru, pelo que a sua sucessão nunca mais encontrou uma linha directa.

Entre 1167 e 1169 registou-se a chegada de mais invasores, oriundos do sul do País de Gales. Instalaram-se na Irlanda numa acção encabeçada pelo rei de Leinster, Diarmait Mac Murchada. Este monarca alimentava a ambição de tornar-se rei de toda a Irlanda, mas estava exilado devido ao conflito que tivera contra o rei de Connacht, Turlough O'Connor. Mac Murchada conseguiria, contudo, o apoio do rei inglês, Henrique II, tendo assim amealhado um grupo de normandos e galeses liderados pelo nobre inglês Richard de Clare também conhecido pela alcunha de “Strongbow”, que por ser filho de Isabel de Beaumont, era neto do primeiro Conde de Leicester, Robert de Beaumont. Uma das promessas feitas a este nobre inglês fora a mão em casamento de Aoife, filha de Diarmait Mac Murchada, pelo que Richard de Clare asseguraria direitos sucessórios como rei de Leinster, embora a antiga lei da Irlanda, a Lei Brehon, não o reconhecesse como tal. O casamento entre ambos deu-se em Agosto de 1170, no dia seguinte à tomada da cidade de Waterford.


(Casamento de Aoife com "Strongbow")

Em Maio de 1171, morreu Diarmait Mac Murchada e Richard de Clare tornou-se rei de Leinster, mas na prática isso resultou no anúncio do rei de Inglaterra, Henrique II, como legítimo Lorde da Irlanda, título que depois entregou ao seu filho mais novo, o rei João, que reinaria em Inglaterra durante a ausência do irmão mais velho, Ricardo Coração de Leão. O acordo entre Diarmait e Richard de Clare resultou assim no início de 800 anos de intrusão inglesa na Irlanda e, ainda hoje, o nome Diarmait Mac Murchada é tido como o de um traidor do país.

Nasceria um sistema parlamentar e de leis semelhantes às existentes na vizinha Inglaterra. Com isto foi constituído, em 1297, o parlamento irlandês, embora os nativos tentassem resistir às mudanças estrangeiras. Desde o séc. XVI que o governo inglês fez todos os esforços possíveis para implementar o Protestantismo na Irlanda, mas a reforma religiosa não criou raízes entre a população. Isto deveu-se mais como medida de defesa face à repressão da administração inglesa do que à defesa do catolicismo original. A excepção, no entanto, registou-se na região do Ulster, onde as acções coloniais inglesas revelaram-se mais frutuosas, muito devido ao trabalho de presbíteros escoceses. A rebelião em 1798, que queria unir Católicos, Protestantes, incluindo Presbíteros, contra o poder inglês, acabou por fracassar e o parlamento irlandês foi induzido a votar a sua própria extinção em 1800.

Os representantes da Irlanda passaram então a ocupar um lugar minoritário nas salas de Westminster, em Londres. Apesar das reivindicações, este poder recusava-se a dar grandes concessões aos católicos. Até que apareceu o advogado católico Daniel O’Connell fundador da Associação Católica, em 1823, cujo objectivo era pressionar Londres a conceder maiores liberdades.



A associação acabou por se tornar num movimento politico de vulto e, em 1828, O’Donnell concorreu ao parlamento inglês e conseguiu obter um resultado que lhe daria a legitimidade popular para rumar até Londres, apesar de saber que o lugar estava vedado a católicos. Foi então que, no ano seguinte, seria aprovado o Acto de Emancipação Católico, que permitiu a Daniel O’Connell ocupar o seu lugar no parlamento inglês. A conquista desse acto deveu-se à sensibilidade então demonstrada pelo primeiro-ministro britânico, Arthur Wellesley, o Duque de Wellington. Herói de muitas batalhas contra os franceses - com Portugal em grande destaque - o Duque de Wellington nascera na Irlanda e conhecia bem as dificuldades dos católicos daquele pais. Apesar de fortemente contestado e acusado de ser traidor da constituição protestante, Arthur Wellesley conseguiu com que Daniel O’Connell passasse a ser membro de pleno direito do parlamento em Londres.
Considerado como um dos heróis do pais, Daniel O’Connell proferiria um discurso a 4 de Fevereiro de 1836 que seria considerado histórico. O seu discurso de Justiça para a Irlanda terminava com as palavras: “Peço, respeitosamente insisto: na idêntica justiça para a Irlanda, nos mesmos princípios que têm sido administrados na Escócia e Inglaterra. Não aceitarei menos do que isso. Recusem-me tal se foram capazes”. Este homem tem hoje direito ao seu nome inscrito na principal artéria de Dublin, para além de se saber que inspiraria depois personalidades como Ghandi e Martin Luther King.

Charles Stewart Parnell é outro nome a conhecer. Seria ele o primeiro presidente do Irish National Land League, em 1879. A Irlanda assistiu, entre 1880 e 1882, a um recrudescimento da chamada “Guerra da Terra” (Land War), um período caracterizado precisamente pela detenção de Charles Parnell e a recusa do pagamento da renda por parte dos irlandeses aos proprietários ausentes. A “terra para o povo” era a mensagem principal dos cartazes contra o pagamento da renda, acusando de traidores aqueles que o fizessem enquanto se mantivesse a detenção de Parnell.



A terra acabou por passar para aqueles que nela trabalhavam. O nome Parnell é hoje aquele que conflui em Dublin com a artéria dedicada à memória de Daniel O’Connell.



Em 1905, o jornalista Arthur Griffith começou a desenvolver a ideia de um novo partido que se viria a chamar Sinn Féin, ou seja, “Nós Mesmos”.



Defendiam os membros do Sinn Féin que os deputados do parlamento eleitos pela Irlanda deveriam deixar Londres e regressar ao seu país e formar aí um parlamento independente. Em 1916, uma rebelião contra os ingleses que ficaria conhecida como a
”Easter Raising”, entre os dias 24 e 30 de Abril, proclamou a República da Irlanda em Dublin, mas os revoltosos foram dominados. O desfecho, contudo, teve uma vasta simpatia popular o que permitiu que, dois anos mais tarde, nas eleições de 1918, o Sinn Féin ganhasse a maioria e formasse assim o primeiro Dáil, ou seja, o parlamento independente em Dublin cujo primeiro presidente viria a ser Éamon de Valera.



A tentativa da parte dos britânicos para esmagar o Sinn Féin levou à Guerra da Independência de 1919-21. As forças irlandesas seriam então lideradas em actos de guerrilha por um outro nome da galeria de heróis do país: Michael Collins, ministro das Finanças, mas também director de informações do Exército Republicano Irlandês (Irish Republican Army - IRA).



As acções da resistência irlandesa levaram a uma acção de retaliação britânica, a 21 de Novembro de 1920, quando na sequência de um cerco policial foram mortos a tiro mais de 30 pessoas no estádio Croke Park, em Dublin, naquilo que ficaria conhecido como o “Domingo Sangrento”, o primeiro a merecer esta designação, já que, em 1972, teve também lugar, na cidade de Derry, na Irlanda do Norte, um massacre que seria imortalizado na canção do grupo irlandês U2 e também, numa versão menos conhecida, por John Lennon e Yoko Ono. O conflito levou à assinatura das tréguas em Dezembro de 1921, através do Tratado Anglo-Irlandês. Como resultado deste tratado, 26 condados da Irlanda conseguiram a garantia de um Estado Livre. Os restantes seis condados a Norte, na zona do Ulster, conseguiram, um ano antes, a garantia de um parlamento próprio em Belfast, permanecendo dentro da estrutura politica do Reino Unido. O IRA original sofreu então uma divisão, sendo que a maioria não apoiava a assinatura do tratado. Michael Collins estava então do lado da minoria e seguiu-se um segundo período de confrontos, entre 1922 e 1923, mas desta vez entre os próprios irlandeses. O próprio Michael Collins seria morto, com 31 anos de idade, numa emboscada a 22 de Agosto de 1922. O objectivo dos detractores do tratado era o de implementar uma Irlanda completamente unida e livre do poder de Londres. O conflito terminou a 24 de Maio de 1923. Apesar das lutas fratricidas, esta guerra civil ajudou a cimentar as alianças politicas para os anos seguintes e, em 1948, foi acordado o The Republic of Ireland Act, que instituía, finalmente a Irlanda como uma República, deixando o rei de Inglaterra de usar o título de rei da Irlanda. O tratado, assinado a 21 de Dezembro de 1948 entrou em vigor a 18 de Abril de 1949.

Talvez esta singela resenha histórica nos ajude a perceber as raízes da resistência irlandesa e como, apesar do sofrimentos que foram vítimas, é sempre possível negociar com eles... Por outro lado, depois de conhecer estas histórias fiquei ainda com mais vontade de um dia ir visitar o país.

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20081211

True colors

Parabéns, mestre Oliveira

20081208

A esperança por decreto

O Movimento Esperança Portugal apresentou a jornalista Laurinda Alves como candidata ao Parlamento Europeu. O MEP, como projecto político, é uma ideia simpática e até se poderia dizer necessária. O uso da cor verde faz ali todo o sentido, mas há qualquer coisa que não me convence. Se calhar, é o facto se chamarem "movimento" e não "partido". Também deve ser por acharem que é possível instituir a esperança por força de decreto. Ao ler as "10 razões para aderir ao MEP" acho que, por exemplo - e sem ofensa, por favor-, o "Partido dos Bebedores de Cerveja" dos EUA oferece soluções mais sustentadas para quem está desiludido com os actuais partidos políticos: "On most issues, both sides are wrong, and even if one side seems right, they probably have ulterior motives" -"Muitas vezes, os dois lados estão errados e mesmo quando um deles parece estar certo, provavelmente deve-se a motivos ocultos".

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London Blackfriars







Dedicado a Chris Ware...

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O hino da questão

Na hora em que nos despedimos de Alçada Baptista, quero apenas recordar a questão por ele lançada há mais de dez anos a propósito da necessidade de uma revisão do hino nacional.



Para ele, dedico-lhe a canção dos "Deolinda"...

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20081207

Histórias que acabam

Dois finais diferentes para histórias de Hollywood. Primeiro, a morte de Sunny Von Bulow. Segundo, a prisão de O. J. Simpson...

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20081206

Uma questão de segurança

Aeroporto de Lisboa. Na fila do raio-x, um passageiro de origem de Leste com aspecto modesto, cerca de 45-50 anos, aparentemente pouco fluente no português, apresenta-se algo nervoso e a suar imenso. Leva consigo um embrulho relativamente volumoso cuidadosamente envolto em plástico verde. Após uma primeira passagem do pacote pela máquina de raio-x, o passageiro é abordado pelos seguranças que pedem ao passageiro que o abra. Ele parece não compreender e quando percebe que aquilo é capaz de demorar, abandona o local com o aparente pretexto de que está atrasado para apanhar o avião. O pacote, ainda por abrir e acondicionado no plástico verde, fica para trás junto ao segurança que, por momentos, não sabe o que fazer...



O segurança chama então um segundo colega ao qual explica o que se passou. O segundo segurança, por sua vez, solicita a presença do polícia que se encontra a vigiar o local. Ambos deslocam-se à máquina de raio-x para visualizar de novo o conteúdo do pacote...



Após esta segunda visualização, o polícia aparentemente volta ao seu posto e o segurança leva o pacote, que se mantém sempre por abrir, para um outro local...



Para mim, que tanto faz, o raio-x até poderia ter revelado que o pacote continha chouriços ou outro material perfeitamente inofensivo. Agora, se havia mesmo dúvidas quanto ao real conteúdo, é interessante constatar que um indivíduo com carga suspeita deu às de Vilas-Diogo no interior do aeroporto, abandonando um pacote suspeito sem que as autoridades policiais ou os seguranças tivessem identificado cabalmente o seu conteúdo.

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20081204

Avião de águas profundas

Diz-nos o "DN" de hoje que dois deputados do PS, o ex-ministro da Justiça Vera Jardim e o ex-suspeito da Casa Pia Paulo Pedroso, interpelaram o Governo PS sobre o caso dos voos da CIA. O "DN" também mandou - e bem- um e-mail para o actual presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, a perguntar sobre o seu papel enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros de António Guterres. Acho tudo muito bem, o problema é que este tipo de perguntas já não são novas. E têm mais de 20 anos de atraso, conforme já expliquei muito bem explicadinho.

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Dia de S. João Damasceno


Hoje, 4 de Dezembro, é dia de S. João Damasceno, santo que teve a mão direita decepada para que não escrevesse mais, mas que pela fé na Virgem Maria viu a mão ser-lhe recolocada.

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20081203

Capacho da América na Europa


O documento "muy secreto" que o diário espanhol "El País" revelou no domingo mencionava apenas o pedido norte-americano ao governo espanhol para que, em caso de emergência, os aviões que transportassem suspeitos para interrogatórios - os tais voos da vergonha da CIA -, pudessem aterrar em aeroportos espanhóis. Garantia o documento que pedidos semelhantes estavam a ser feitos a outros governos de países por onde os voos também iriam passar. Embora não especificasse quais os governos em causa, é apenas natural concluir através das evidências públicas que Portugal foi mesmo um dos tais países na rota norte-americana. Contudo, aqueles que nos governam continuam a garantir que os norte-americanos nunca nos perguntaram ou disseram "o que quer que fosse". Eu acredito nestes governantes, pois a posição deles - ao contrário do respeito demonstrado para com Espanha - apenas vem confirmar que somos o capacho da América na Europa.

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20081201

Convite ao erro

Confirmados

Não se trata da necessidade de explicar previsões ou de querer colocar-me em bicos de pés a agitar uma mãozinha e a gritar "Eu bem disse! Eu bem disse!". Aliás, nem sei por que muitas vezes perco tempo a colocar aqui as minhas impressões mais sinceras sobre o mundo porco em que vivemos. Só me prejudico e nada ganho. Melhor seria estar calado em vez de andar a "oferecer" pistas que julgo que podiam ser aproveitadas por gente que também gostaria de viver num mundo mais justo e livre...
Serve isto para confirmar que Hillary Clinton ganhou e Robert "CIA/Amigo dos Bush" Gates também continua no barco. Obama ainda não se mostrou merecedor da vitória...

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