20051028

Desistam! Soares não vai desistir!

Eduardo Prado Coelho intitula a crónica de hoje no "Público" de "E se desistisse?". E escreveu: "(...) as confusões que Soares sempre fez e que as pessoas até achavam graça tornaram-se inquietantes, porque mais do que palavras sobre o país as pessoas querem rigor. Antigamente, trocar o porta-voz pelo mandatário passava sem consequências, mas agora aparece como um indício de que a idade tem destas coisas”.
O autor da crónica diz depois que cada vez que Mário Soares aparece perde votos nas sondagens. O texto de Eduardo Prado Coelho, inclusive, começou por analisar a sondagem que foi publicada ontem no "Diário de Notícias", onde se conclui que Cavaco Silva poderá alcançar 48,8 por cento na primeira volta contra 13,8 por cento de Manuel Alegre e só depois aparece Mário Soares, com 10,3 por cento, seguido de Louçã e Jerónimo de Sousa, ambos na casa dos 5 por cento. Numa segunda volta contra Cavaco Silva, Manuel Alegre conseguiria mais oito por cento do que Mário Soares.
O cronista termina o escrito com a conclusão: "Soares faz um percurso ao contrário. Cada aparição em público confirma o que já se sabia. O que leva muita gente, incluindo altos responsáveis do PS, a colocarem a questão: não seria melhor desistir? Todos aqueles que admiram a personalidade de Soares e que querem o melhor resultado para a esquerda e o PS dirão que sim. Mesmo que alguns ainda não tenham a coragem de dizer o que já começaram a pensar".
Esta crónica reflecte o que avancei no "post" imediatamente anterior a este, escrito há quatro dias atrás, ainda antes da apresentação do manifesto de Soares e antes da sondagem do "DN".
Está cada vez mais à vista aquilo que defendi: Soares foi colocado em corrida para garantir a vitória de Cavaco Silva.
É a paga que o PS faz à ajuda que Cavaco Silva deu quando escreveu aquele artigo sobre os bons e maus políticos no "Expresso", e que depois ajudou à demissão de Santana Lopes por Jorge Sampaio. A "amizade" entre Soares e Cavaco Silva esconde ainda um episódio pouco divulgado na Imprensa – mas não desconhecido! – que remonta a 1987. Foi graças à convocação de eleições antecipadas – as tais que deram a primeira maioria absoluta a Cavaco Silva – que Mário Soares impediu o início dos trabalhos de uma comissão de inquérito parlamentar que acabara de ser constituída na Assembleia da República para investigar o negócio do tráfico de armas norte-americanas por Lisboa no âmbito do caso "Irangate". Um caso que se desenvolvera entre 1983 e 1985, durante o governo do "Bloco Central", a coligação PS/PSD, liderada então pelo primeiro-ministro Mário Soares e pelo malogrado Mota Pinto, que era o ministro da Defesa. Caso Mário Soares tivesse optado por convovar um governo PS/PRD em vez de optar pelas eleições antecipadas, a comissão iria funcionar. E, no novo parlamento, este já com a maioria absoluta de Cavaco Silva, nunca mais se falou no assunto.
São os segredos entre Cavaco e Soares...
Talvez os jovens que Soares espera ter a debater na sua sede de campanha nos Restauradores possam perguntar-lhe sobre isso. E, quem sabe, se na sede Cavaco Silva, no Campo Grande, as mesmas questões não serão colocadas:

"Porque nunca se investigou em Portugal o tráfico ilegal de armas norte-americanas? Por que razão a comissão de inquérito parlamentar aprovada em Março de 1987 nunca chegou a funcionar? Que segredos partilham entre si os dois principais candidatos a Presidente da República? Que promiscuidade democrática é esta que a todos nos engana?"

Quero assim dizer a Eduardo Prado Coelho e a todos aqueles que "já começaram a pensar" que, independentemente da versão que se conheça sobre o convite de Sócrates a Mário Soares (oficialmente teria sido porque as sondagens sobre Manuel Alegre seriam desastrosas... Hei! E Mário Soares, em 1985, tinha 8 por cento e depois não ganhou?!), tudo isto já estava escrito há muito tempo.
Soares, salvo uma razão de saúde, não pode desistir, pois Cavaco Silva tem de ganhar.
Sei isso desde Abril de 2003, quando Cavaco Silva surgiu como o convidado de Mário Soares para uma palestra sobre economia na Casa Museu João Soares, em Cortes, Leiria. Vi Mário Soares, em directo para as televisões, com Cavaco Silva sorridente a seu lado, a manifestar o apoio político a uma provável candidatura de Cavaco a Belém ao dizer que ele daria um bom candidato presidencial. Isto, na altura, foi entendido como uma "desautorização" a uma eventual candidatura do antigo primeiro-ministro socialista António Guterres. Alguém disse depois que Guterres "ainda era muito novo" e que poderia esperar. E depois, viu-se o resultado: calaram Guterres ao arranjarem-lhe um emprego na ONU (algo muito parecido com o que sucedeu em 1995, quando mandaram Freitas do Amaral presidir à Assembleia-Geral das Nações Unidas para não ser ele o candidato às Presidenciais, assim como, agora, o "prenderam" ao cargo de ministro socialista).
Esta minha convicção é tão sincera e já bem conhecida no meio político que, inclusive, no meu livro "Eu Sei Que Você Sabe – Manual de Instruções Para Teorias da Conspiração", editado em Novembro de 2003, terminei assim o capítulo quatro, intitulado precisamente "Portugal na Rota do ‘Irão-Contra’": "Também, para terminar aqui este capítulo, não me perguntem se fiquei surpreendido ao ver, recentemente, Mário Soares ao lado de Cavaco Silva, a dar-lhe o seu apoio político para uma eventual candidatura deste último à presidência da República. Apesar das acusações entre ambos, parece-me óbvio que chegou a altura de Mário Soares recompensar o trabalho de Cavaco Silva e ajudá-lo a chegar também ao mais alto cargo da Nação nas eleições presidenciais previstas para 2006. E a pátria, essa, reconhecida, depois de Mário Soares, ajoelhar-se-á aos pés de Cavaco Silva.
Jorge Sampaio foi apenas um intervalo necessário".
Para saber mais sobre os negócios que Mário Soares e Cavaco Silva não querem que as gerações mais novas conheçam, vejam aqui este meu outro "blog" com o "filme" do fim da democracia.

20051024

Receita para o sucesso

Não há dúvidas que Mário Soares entrou na corrida presidencial apenas para garantir que Cavaco Silva seja o vencedor. Contudo, há uma maneira do PS garantir a união com o PCP e BE e impedir o tal "passeio na Avenida" do antigo primeiro-ministro.
Se o PS quer realmente ganhar a eleição presidencial de modo a impedir a vitória de Cavaco Silva, então só tem de pedir a Mário Soares que, quase no fim da corrida, desista a favor de Manuel Alegre. O poeta é, neste momento, o verdadeiro candidato independente destas eleições. É o "inocente republicano". É o único que pode unir.
Se uma pessoa com o gabarito de Soares desistir (até poderia alegar motivos de saúde que ninguém levaria a mal, sobretudo depois do que aconteceu a Sousa Franco no ano passado!...), não será difícil para Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, apesar das juras pré-eleitorais, anunciarem igualmente a sua retirada em nome da união de esquerda.
Esta seria a receita para o sucesso.
Se ao menos eles quisessem, eu voltaria a acreditar nos homens...

Um guia bastante útil

Para quem, como eu, gosta de mudar de aparelho de telemóvel uma vez por ano, existe um site ideal para se informar sobre as qualidades dos aparelhos. Bastante completo e fácil de pesquisar entre os modelos de todas as marcas veja-se o Mobile Phone Directory.

20051023

Para viver da mentira

A pergunta "Para que serve um presidente?", é o título da crónica de António Barreto no "Público" deste domingo.
Todos nós sabemos que só Cavaco Silva ou Mário Soares têm reais hipóteses de chegarem à cadeira mais alta no poder português. São dois políticos bem identificados com o actual sistema de partidos e que tiveram de vencer lutas internas que poucos teriam escrúpulos para as viver. Ambos candidatos partilharam responsabilidades na génese da actual situação que tanto criticam, mas irão na mesma, sem qualquer pudor democrático, enfrentar eleições devidamente "maquilhados" pela Imprensa seguidista.
Dizem-se republicanos, contudo a pose que assumem para a conquista do voto popular é a de um Rei, como se pode conferir no mesmo diário, na crónica assinada por Mário Mesquita, onde se lê: "(...) a SIC Notícias que, em momento de euforia televisiva, fez questão de acompanhar, com as suas generosas câmaras, o percurso de Sua Majestade, Cavaco Silva, da residência da Rua do Possolo ao Centro Cultural de Belém". E ainda, no mesmo "Público", o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, embora caricaturando, colocou a imagem tal como ela está a ser pintada ao dizer que Cavaco é um "D. Sebastião do século XXI".
Está visto: este bravo povo português quer é um Rei, como aquele que Jorge Sampaio visitou recentemente na Bélgica durante a sua última visita de Estado em fim de mandato.
Acabou-se a discussão e, Vital Moreira, é melhor terminar já com essa comissão para a celebração dos 100 anos da República, pois cheira-me que a coisa não vai chegar até lá!
Portugal é uma país habitado por gente que, bem lá no fundo, anseia pela ordem democrática que só a monarquia poderá dar. Como os nossos vizinhos espanhóis conseguiram fazer...
António Barreto bem que tentou explicar para que serve um presidente: "Se for livre e quiser, o Presidente tem meios ao seu alcance. Pode não promulgar leis. Pode não aceitar nomeações. Pode advertir os governos e o Parlamento. Pode dissolver a Assembleia. Pode impôr condições para formação de governos. Pode impor processos de feitura de leis mais competentes. Pode exigir leis mais bem elaboradas e justificadas. Pode mandar estudar problemas e retirar conclusões. Pode publicar livros brancos com recomendações políticas. Pode enviar repetidas e contudentes mensagens ao Parlamento. Pode designar as instituições que não cumprem os seus deveres. Pode impedir negócios estranhos. Pode isso e muito mais. E será tanto mais eficaz quanto o fizer com o povo como testemunha. Isto é, se agir diante dos cidadãos, às abertas. Se não for um covarde que, com receio de ser contrariado pelo governo ou pelo Parlamento, prefira o silêncio ou a reserva. Se trocar as conversas semanais, discretas e alcatifadas, do Palácio de Belém, com o primeiro-ministro, pelo espaço público. Se for claro, concreto e preciso. Se a população perceber o que denuncia e o que propõe. Se assim for, talvez não se trate de mais uma eleição perdida".
Troque-se neste texto de António Barreto a palavra "Presidente" por "Rei" e teríamos a solução para Portugal... Pois um Rei iria ser livre dos partidos. Ele iria ser o testemunho do povo, desta brava gente lusitana.
Quanto ao próximo Presidente da República, venha ele a chamar-se Soares ou Silva, sabemos bem de antemão que nunca irá ser um "Rei" livre, pois qualquer um deles tem muitos segredos escondidos e estará sempre a ser manipulado pelos partidos. Só iremos mesmo votar para a eleição do Presidente da República para se concretizar a ilusão de que há Democracia em Portugal, e que qualquer um de nós pode ambicionar vir um dia a ocupar o mais alto cargo da nação mesmo sabendo que isso não é verdade. Pobre país este que aceita viver da mentira...

20051020

Soares-Cavaco: o primeiro debate

Mário Soares e Cavaco Silva sentaram-se frente a frente 310 vezes, mas isso aconteceu apenas quando o primeiro era Presidente da República e o segundo primeiro-ministro, pois nunca se encontraram face a face para um debate público. Hoje, com o anúncio de que Cavaco Silva será candidato à Presidência da República, os dois rivais políticos vão finalmente ser obrigados a debater à vista de toda a gente. A avaliar pelo o que cada um disse do outro nas respectivas obras biográficas (três livros-entrevistas de Mário Soares à jornalista Maria João Avillez e dois volumes de autobiografia política de Cavaco Silva), o "combate dos chefes" promete. O "Para Mim Tanto Faz" apresenta os argumentos de cada lado numa antecipação do que poderá ser dito (ou talvez não) até às eleições de Janeiro:

- Para Mim Tanto Faz (PMTF): Doutor Mário Soares, Professor Cavaco Silva, obrigado por nos terem proporcionado este primeiro debate público e a minha a pergunta será idêntica para ambos: O que pensavam um do outro em 1985, altura em que o Prof. Cavaco se tornou líder do PSD e o Dr. Soares era primeiro-ministro da coligação PS/PSD? Por uma questão de antiguidade e visto que até já exerceu anteriormente o cargo a que agora se candidata de novo, dou a palavra em primeiro lugar ao Dr. Mário Soares para responder a esta questão...
- Mário Soares (MS): "Como ministro das Finanças de Sá Carneiro, [Cavaco Silva] deixou-me uma impressão apagada, embora tenha feito um bom trabalho para a AD no plano eleitoralista. Quando saiu do Governo [em 1980] perdi-o de vista".
- PMTF: Tem a palavra o Prof. Cavaco Silva. O que pensava do Dr. Soares em 1985?
- Cavaco Silva (CS): "Via-o [a Mário Soares] como um político corajoso e hábil, perito nos jogos político-partidários, pouco preocupado com questões de coerência e pouco conhecedor das matérias concretas da governação, muito determinado na realização dos seus objectivos pessoais e que se movia com à-vontade nos meios internacionais. Achava-o em quase tudo muito diferente de mim e nalguns aspectos mesmo o oposto".
- PMTF: Prof. Cavaco Silva, o primeiro encontro que teve com o Dr. Soares ocorreu dois dias depois de ter sido eleito presidente do PSD na Figueira da Foz. Foi a 22 de Maio de 1985, em S. Bento. Que recordações guarda dessa reunião?
- CS: "A reunião durou uma hora e meia e não se pode dizer que tenha sido uma conversa simpática ou que tivesse contribuído para a criação de uma relação de confiança entre nós. Mário Soares atacou o PSD e utilizou um tom de grande firmeza, procurando inibir-me. Para que eu não tivesse dúvidas, rematou: 'Apesar do meu ar um pouco bonacheirão, não pense que me vem moldar às suas exigências ou que lhe vou fazer jeitos'. De forma delicada, respondi-lhe com igual firmeza. O PSD não prescindia de uma mudança de actuação do Governo, que lhe desse um novo fôlego e maior eficácia, de modo a enfrentar melhor os problemas do País. Percebi logo nesse primeiro encontro que a eleição presidencial [em Janeiro de 1986] era para Mário Soares a questão-chave. A estratégia autónoma do PSD aprovada na Figueira da Foz, apontando para o apoio à candidatura de Freitas do Amaral, era para ele totalmente inaceitável".
- PMTF: E o que tem a dizer o Dr. Mário Soares sobre este primeiro encontro com o novo líder do PSD e companheiro de coligação governamental?
- MS: "Estou hoje perfeitamente convencido de que houve negociações prévias entre Eanes, Eurico de Melo e próprio Cavaco Silva – este, talvez, por forma indirecta – para terem a garantia do Presidente [Eanes] de que, se houvesse uma crise e a Coligação [PS/PSD] se rompesse (como lhes seria provável, se não mesmo necessário), poderiam contar com a dissolução do Parlamento. Cavaco sabia – não podia ignorar! – que iria disputar eleições a curto prazo. Percebi então – só então – que estava perante uma manobra global de envergadura, cujo alcance político era, por um lado, derrubar o Governo, por outro, impedir-me de ser Presidente da República e, até, de subscrever o Tratado de Adesão à CEE, se fosse possível adiar a sua assinatura, como chegaram a tentar. Depois, porque era prudente contar com as reacções do eleitorado, pretenderam montar aquela ficção das negociações entre o PSD e o PS. Mas, aí, já não acreditei. Tanto, que não cedi uma linha. Não valia a pena".
- PMTF: Prof. Cavaco Silva, esta acusação da parte do Dr. Soares, a de que houve uma "manobra global de envergadura", que comentário lhe merece?
- CS: "Não tem qualquer fundamento".
- PMTF - Permita-me observar, Dr. Soares, que dois dias após este primeiro encontro com o Prof. Cavaco Silva houve uma segunda reunião entre ambos, na sede do PS, no Largo do Rato, e que ficaria conhecida como a “cimeira das flores”. Para os mais novos, que pouco sabem sobre a nossa história recente – mas muito por culpa da actual Imprensa, desculpem-me este aparte -, mas, como dizia, essa reunião ficou assim conhecida porque, antes do encontro, o Prof. Cavaco Silva disse aos jornalistas que aquilo não seria uma "cimeira de flores". No entanto, quando chegou à sede do PS, esta estava decorada de flores do chão ao tecto. Qual é a explicação para tal facto, Dr. Mário Soares?
- MS: "A questão das flores foi apenas um simples toque de humor, em resposta a qualquer alusão que Cavaco fez 'às flores do PS'. Mas o 'Professor', nessa altura, apresentava-se muito rígido e contraído – ao dar os primeiros passos na grande política – e não aparentava grande senso de humor...".
- PMTF: Isto é verdade Prof. Cavaco Silva? Vê hoje este caso como um momento em que não teve o suficiente senso de humor?
- CS: "Não apreciei o gesto, que achei de uma falta de respeito da parte do PS. 'Como é que um PSD presidido por mim pode estar no Governo com um partido que se comporta assim com o seu parceiro de Coligação?'- foi a interrogação que me veio à cabeça".
- PMTF: E assim se caminhou para o fim de um Governo de coligação, não é verdade Dr. Mário Soares?
- MS: "O PSD [com a nova direcção liderado por Cavaco Silva] rompeu a Coligação e derrubou o Governo, com premeditação, levando o requinte da hipocrisia a acusar-nos a nós, socialistas, de o termos feito".
- PMTF – Não creio que o Prof. Cavaco Silva partilhe desta ideia e calculo que tenha inclusive uma visão diferente dos acontecimentos... Gostaria de o ouvir sobre o fim do "Bloco Central" e a propósito desta outra acusação do Dr. Mário Soares, tanto mais que houve uma segunda reunião, a 30 de Maio, desta vez na sede do PSD e um terceiro encontro, no dia seguinte, em S. Bento...
- CS: "Da intervenção de Mário Soares [em S. Bento] ficou claro que as eleições presidenciais eram a questão-chave, tendo mesmo referido um acordo verbal com Mota Pinto, segundo o qual, sendo ele Presidente da República, o primeiro-ministro poderia ser do PSD. Mota Pinto terá dito que Mário Soares nunca conseguiria impor uma tal solução ao PS, ao que ele lhe respondera que era um engano, pois até facilitaria a sua sucessão no partido. Mário Soares parecia obcecado com a sua eleição para Presidente da República".
- PMTF: Depois, apesar de tudo, foi o que se sabe... O Dr. Mário Soares foi eleito Presidente da República e, mais tarde, em 1987, o Prof. Cavaco Silva ganhou a primeira maioria absoluta, o que lhe permite trabalhar para alcançar a segunda maioria absoluta em 1991. Também o Dr. Mário Soares havia garantido a sua reeleição para um segundo mandato. Contudo, esse segundo mandato, em termos de relações entre um e outro foi diferente do primeiro... A dada altura, o Prof. Cavaco Silva disse ao diário "Público", em Julho de 1992: "Eu não posso acreditar que Belém passe a vida a pensar como é que me vai tramar...". Mas, pelos visto, parece que o Dr. Mário Soares andava mesmo a pensar em "tramá-lo", conforme se pode depreender do episódio do jantar no restaurante "Aviz", no Chiado, quase um ano depois, em Junho de 1993. Do que se falou à mesa sabe-se pouco, mas o que se passou depois para o campo público revela o ambiente e as ideias debatidas. Recordo que, presentes no jantar estiveram nomes como Almeida Santos, Jorge Sampaio, Jaime Gama, Manuel Alegre, José Homem de Mello, Gomes Mota, Vítor Cunha Rego, António Campos e Carlos Monjardino. "Dar cabo do Cavaco a todo o custo", foi, aliás uma frase que alguém terá utilizado. Sabe-se que Jaime Gama terá chamado a atenção para os prazos estabelecidos na Constituição, ao que o Dr. Mário Soares, conforme relatou José Homem de Mello no seu diário, retorquiu para Gama: "Você é muito inteligente, mas politicamente sempre foi um nabo!". Jaime Gama nem terá reagido perante esta observação do então Presidente da República. O que tem a dizer sobre este episódio, Dr. Mário Soares?
- MS: "Já falei dezenas de vezes desse 'fait divers' sem qualquer importância. Jantar com amigos foi coisa que, ao longo dos meus dois mandatos, me aconteceu com grande frequência. Jantar no 'Aviz' foi, com efeito, mais raro. Por duas razões: não é nada barato, e a comida é demasiado sofisticada para o meu gosto".
- PMTF: E, Prof. Cavaco Silva, o que tem a dizer sobre este episódio?
- CS: "Para mim, era altamente improvável que Mário Soares viesse a dissolver a Assembleia da República, mas não tinha a mínima dúvida de que não iria abrandar as suas acções visando desgastar o Governo".
- PMTF: Outro factor que sempre perturbou o relacionamento entre ambos foram as fugas de informação após a reuniões de quinta-feira, em Belém. No livro "O Meu Tempo Com Cavaco Silva", o jornalista e assessor de Imprensa do primeiro-ministro, Fernando Lima, diz que "a frequência com que 'O Independente' revelava o que supostamente se passava nas audiências de quinta-feira, a sós, entre Mário Soares e Cavaco Silva, não deixava margens para dúvidas no gabinete do primeiro-ministro de que o Palácio de Belém alimentava com fugas de informação aquele semanário que, por sinal, se publicava no dia imediato ao dos encontros". Esta é igualmente a sua opinião, Prof. Cavaco Silva?
- CS: "Várias vezes protestei junto do Presidente, chegando mesmo a fazê-lo por escrito, dizendo-lhe que estava seguro de que a fonte da fuga de informações estava no seu gabinete, embora me fosse difícil apresentar provas objectivas. Embora com pouca convicção, Mário Soares negava sempre".
- PMTF: Dr, Mário Soares...
- MS: "Nunca divulguei nada que o primeiro-ministro me tivesse confidenciado. Ele sabe muito bem isso. Foi esse, aliás, um dos fundamentos principais da nossa relação de confiança".
- PMTF: Por que razão o Prof. Cavaco Silva não informou antecipadamente o então Presidente da República, o Dr. Mário Soares, que já não iria ser candidato a primeiro-ministro nas eleições de Outubro de 1995?
- CS: "Como eu esperava, foi-me perguntado [durante a conferência de Imprensa a 23 de Janeiro de 1995] se tinha comunicado previamente a minha decisão ao Presidente da República. Eu não o tinha feito- o que o deixou irritado comigo, como manifestou no encontro que tivemos na quinta-feira seguinte - porque receava que, por essa via, ocorresse uma fuga de informação para a Comunicação Social. Como não podia em conferência de Imprensa invocar esta razão, respondi que, tratando-se de uma decisão pessoal, respeitante a um cargo partidário e não ao Governo, tinha entendido que não necessitava de informar previamente o Presidente da República".
- PMTF: E o que tem a dizer sobre isto, Dr. Mário Soares?
- MS: "Deveria, apesar de tudo, ter-me informado. Pedia-me uma audiência e, meia-hora depois, fazia a sua comunicação ao País. Há actos de cortesia institucional que não devem ser omitidos. Noblesse oblige, como dizem os franceses...".

Dúvidas presidencialistas

Não tenho dúvidas que Cavaco Silva vai ganhar as eleições presidenciais. A minha dúvida é saber se vai ser logo à primeira volta.
Não tenho dúvidas de que Mário Soares vai fazer uma série de pequenas asneiras e que a dada altura alguém vai escrever num jornal algo do género: "Ele não merecia acabar assim a sua carreira política". A minha dúvida está é em saber se ele fez aquilo de propósito ou não.
Não tenho dúvidas que Manuel Alegre sabe por que Soares é candidato do PS e ele não, mas a minha dúvida é se algum dia saberemos a verdadeira história.
Não tenho dúvidas que nenhum dos outros candidatos de esquerda (Jerónimo e Louçã) não vão desistir. A única dúvida que tenho a esse respeito está em saber qual dois é que não o fará em primeiro lugar!...

20051014

Os amigos do arquitecto

O grande arquitecto do "Expresso" vai ser substituído.
Quem tem acompanhado este blogue conhece a minha opinião sobre o senhor, mas isso deve-se apenas a questões profissionais, uma vez que não nos conhecemos pessoalmente. Aliás, eu até deveria ter elogiado a sua crónica de análise política de há duas semanas. Num rasgo de originalidade, Saraiva supreendeu-me pela positiva quando apresentou um retrato da corrida presidencial completamente oposto à realidade. Ou seja, Cavaco Silva concorria a Belém contra outros candidatos à direita e Mário Soares é que conseguira a unidade à esquerda. Mas, na semana passada, Saraiva voltou a desiludir-me quando teve a necessidade de explicar que não estava "gagá", isto depois de vários familiares seus terem sido confrontados com a questão por parte de leitores...
Serviu este pequeno episódio para constatar várias coisas. Eis o que eu descobri:
Os amigos dos familiares do arquitecto não perceberam o que ele quis dizer, mas eu percebi e gostei.
Os amigos e familiares do senhor arquitecto pensaram que ele estava "gagá", mas eu vi naquela original crónica um rasgo de génio. Algo raro, algo que me surpreendeu a ponto de, na altura, nem sequer ter sabido o que escrever neste blogue, pois tal fora o espanto em mim causado... Porém, Saraiva sentiu que tinha a necessidade de se explicar na semana seguinte. Isso devolveu-o à normalidade básica da sua pessoa. Creio ter percebido que o mal do arquitecto, afinal, não é ele próprio. O mal são os que o rodeiam e não o deixam demonstrar as suas originais capacidades criativas.
Arquitecto Saraiva, deixo-lhe um conselho: mude de amigos!

O Astérix de Goscinny

Já li o novo Astérix, que hoje foi lançado mundialmente.
"O Céu Cai-lhe em Cima da Cabeça" é mais uma desilusão (isto para quem ainda tinha esperanças). Vai vender bem, disso não há dúvida, mas é de desilusão em desilusão que as histórias do pequeno gaulês se arrastam desde a morte do argumentista, Goscinny, a 5 de Novembro de 1977.
O desenhador Uderzo, ao contrário de Morris, o genuíno criador e "dono" do cow-boy Lucky Lucke, nunca quis um argumentista substituto, e acabou por destruir, pouco a pouco, o método de trabalho do argumentista e as características das personagens e das histórias.
Os primeiros trabalhos de Uderzo sem Goscinny, "O Grande Fosso" e "A Odisseia da Astérix", ainda mantinham algum humor. Há um truque: um "gag" no fim de cada página. É uma questão de ritmo que Goscinny tão bem dominava. Um truque tão velho como um filme de Chaplin ou do Buster Keaton. Depois, qualquer que fosse a história, ela mesmo uma crítica social, tudo corria bem porque as personagens já estavam tão bem oleadas como numa máquina que, qualquer que fosse a situação, a sua reacção daria sempre um "gag" (onde está hoje, por exemplo, um qualquer romano a dizer "Alistem-se, diziam eles... Venham conhecer o mundo, diziam eles!..."?!)
Nesta nova história, Uderzo introduz a ficção-científica na aldeia gaulesa. É uma opção que nem me choca, apesar de parecer estranha à primeira vista. A crítica social, com a tentativa extra-terrestre do controle da poção mágica, é uma alegoria ao desarmamento mundial. Muito bem...
Os desenhos de Uderzo são excelentes, mas a história já não se saboreia, pois lê-se em apenas 15 minutos. Não há um único "gag", uma única piada para reter na memória e comentá-la depois com os amigos. Não há vontade em pegar na história e voltar a lê-la, à procura de detalhes que antes teriam passado despercebidos. Não há nada disso. Já não resta mesmo nada do "espírito" de Goscinny.
Ainda ontem numa livraria espreitei para a nova reedição da ASA da aventura "A Volta à Gália", essa sim, com textos de Goscinny: Que diferença em apenas quatro páginas! Qualquer página que se abra tem um "gag". São em média 48 "gags" por álbum...
Compare-se ainda esta história lançada hoje com "Astérix e os Normandos", uma aventura com idênticas características. Que diferença...
Resta-nos o consolo em reler as antigas aventuras de Astérix ou então recuperar um pouco do espírito perdido de Goscinny com a recente edição em português das aventuras inéditas em livro do pequeno Nicolas, com desenhos de Sempé.
É esse tipo de humor, esse tipo de histórias, que mereceria um prémio Nobel!...

20051013

Jogo matemático

A matemática deveria ser uma coisa divertida.
Ao contrário de muita gente, não escolhi seguir a vertente de letras na escola para "fugir à matemática", como sempre ouvi os outros dizer. Devo acrescentar que é uma pena que a matemática seja encarada como um "bicho papão", daqueles que dão pesadelos quando até pode ser algo divertido. Veja-se, por exemplo, o grande sucesso de vendas que é o livro "O Código da Vinci", com todas as suas revelações matemáticas. Aliás, a matemática serve de ferramenta a Dan Brown para esconder um código dentro do código (daqui a uns tempos explicarei com mais detalhe porque digo isto).
Para já, deixo-vos um pequeno jogo matemático, interactivo, uma vez que envolve uma resposta que vos darei por e-mail, assim que receber o vosso e-mail com o resultado de umas contitas que vos irei pedir.
Para começar o jogo, peguem em dois dados, daqueles normais dos joguinhos, numerados de um a seis... Lancem os dados e vejam os números. Irei adivinhar quais são esses números se me enviarem por e-mail o resultado de umas contas que devem fazer como de seguida explico:

1 - Escolham um desses números, um qualquer mas apenas um, e multipliquem esse número por 2 (os números podem ser repetidos, não há problema).
2 - Ao resultado dessa multiplicação, some-se 5.
3 - Ao resultado dessa soma, multipliquem por 5.
4 - Ao resultado dessa multiplicação, somem o outro número do outro dado.
5 - Mandem o resultado para o e-mail do blogue e recebem a minha resposta com os números que estavam nos dados!

(Exemplo: nos dados estão os números 3 e 4. Escolhe-se, ao acaso, o número 3 e multiplica-se por 2: 3x2=6; soma-se 5: 6+5=11; multiplica-se por 5: 11x5=55; e soma-se o outro número do dado: 55+4=59; e manda-se o número 59 para o e-mail do blogue (paramimtantofaz@hotmail.com)e, na volta, recebem a minha resposta: 3 e 4. Experimentem!...)

Claro que podem estar a pensar que tenho aqui uma tabela que corresponde aos resultados possíveis, mas garanto-vos que não e, caso estivessem ao meu lado, a minha resposta seria quase imediata e sem cábulas!
Depois ensino-vos o "truque"...
Até lá, divirtam-se com a matemática!

20051010

O Alentejo é Redondo

Para mim, que tanto faz, o grande vencedor da noite autárquica foi o presidente do Redondo, Alfredo Barroso. Ele sempre foi eleito pelo PCP e agora venceu com uma lista independente, demonstrando que, afinal, o eleitorado do PCP no Alentejo não é fiel ao partido. Barroso conseguiu a maioria absoluta, passando de 1786 votos em 2001 (candidato pela CDU), para 1859, como independente. A CDU perdeu assim, de uma penada, mais de 1200 votos, pois apenas teve 559 votos. E não consta que o homem fosse arguido num qualquer processo em tribunal... Foi ainda no Redondo que o PS "roubou" um vereador ao PSD...

20051009

Manuela e João

A RTP Memória, quando não exibe jogos de futebol desprovidos de qualquer interesse, mostra algo parecido com isto...



E eles tão divertidos!... Como seria um encontro entre ambos, agora, 10 anos depois?!

20051007

Dia de reflexão

Reflectir para quê?!
Veja-se os resultados que temos, os partidos que temos e os políticos que temos. Tudo isto é fruto de profundas reflexões, não é? Então a culpa é de todos nós, que andamos para aqui a "reflectir"...

20051005

Poemazito ao 5 de Outubro...

Ó República a cinco
que maus ares!
Fazes hoje noventa e cinco
apenas mais quinze que o Mário Soares!

Feliz 5 de Outubro!

Durante 60 anos fomos governados por reis espanhóis, e nem por isso hoje falamos em espanhol. Podemos até vir a ter um regime republicano que dure 120 anos, mas nem por isso seremos republicanos.

Uau! Tal e Qual como em Troia!

...