20040429

Os segredos de Saramago

Após ter lido algumas obras do nosso Nobel da Literatura, quero dizer que gosto muito do seu trabalho, mas, agora se me permitem, não posso concordar com os argumentos normalmente mais usados para o elogio das suas criações. Há pequenos "segredos" do escritor que, ao contrário do que sucede com outras pessoas, não são aqueles que mais me impressionam.

1 – O estilo de escrita.
Não é nada assim de extraordinário, pois para mim, que tanto faz, acho que Saramago escreve bem, porque diz as coisas de maneira que qualquer um entende, até mesmo aqueles que não sabem ler, porque escreve como se fala e se fala bem, então é capaz de não se safar nada mal a escrever. Mesmo que não use pontos de exclamação ou hífens para os diálogos, a sonoridade das suas palavras, algo que muitos apelidam de achado, E é um achado sim senhor, para mim nunca vi uma escrita assim que se pudesse entender, como diriam uns enquanto outros mais sisudos e que se acham conhecedores do uso do poder opiniativo, porque esse direito ainda se lhes existe, dirão, Acho que esse homem não sabe escrever e ponto final, e ainda acrescentariam que aquilo mais não é do que um ovo de Colombo que apenas provoca muita surpresa e emoção àqueles que do primeiro fenómeno não conhecem qualquer notícia.

2- As histórias que inventa.
A "Jangada de Pedra", um livro de 1986, por exemplo, onde a imaginação do autor nos leva a uma situação em que Portugal e Espanha se separam do resto da Europa e partem qual jangada de pedra, assim que o li pensei: "Mas onde já vi isto tudo? Exacto, é como a triologia das "Lendas de Hoje", com a "La Ville qui n'existait pas", "Le Vaisseau de Pierre" - "O Navio de Pedra?!" e, ainda mais, "La Croisière des Oubliés", bandas desenhadas de Enki Bilal e Pierre Christin". Para quem não conhece as obras aconselho estes resumos:

"Dans un petit village du fin fond de la France, c'est l'émoi. Les habitants ont découvert un beau matin que leurs maisons flottaient à un bon mètre du sol. Pire, en quelques heures et avec le vent, c'est toute la commune qui commence à prendre de l'altitude et à se déplacer. Quel est l'origine de ce phénomène ? A-t-il quelque chose à voir avec le camp militaire juste à côté ? Et les deux vagabonds recueillis dans le village n'ont-ils pas une part de responsabilité ? Autant de questions pas forcément prioritaires lorsque sa maison voyage toute seule…"

Não estou a dizer que Saramago anda para aí a “roubar” as ideias de outros autores, mas quero aqui afirmar que, em relação às histórias mais recentes, não me impressiona mesmo nada quando o autor cria aqueles universos alternativos a faz fábulas modernas.
Já vi muitas e melhores.
Outro exemplo de fábulas extraordinárias na banda desenhada são ainda as aventuras do "O Vagabundo dos Limbos", de Godard e Ribera. Quem conhece este personagem sabe do que falo. Quem gosta de Saramago e não sabe do que estou a falar, só digo que tenho pena deles. Mas ainda vão a tempo de recuperar o tempo perdido.
Desde que partam à busca...

P.S. Sendo assim, então porque gosto de ler Saramago? Apenas para confirmar que ele continua a gozar com todos nós. Veja-se o que ele escreveu sobre os governantes no seu mais recente livro e veja-se depois a sua aparição ao lado de Durão Barroso num almoço em S. Bento. Sou assim um pouco masoquista. Leio-o apenas para confirmar as minhas certezas em relação às dúvidas...

20040426

Chineses no Algarve

A propósito do "post" intitulado "Divulgação cultural", onde noticiava a vinda a Portugal de Gavin Menzies, autor do livro "1421 - O Ano em que a China Descobriu o Mundo", uma pessoa amiga chamou-me a atenção para um texto de Joaquim Ferreira do Amaral, publicado no suplemento cultural do "Público", "Mil Folhas", de 13 de Março, onde este último escreveu o seguinte sobre a referida obra:

"Não assinalo aqui (porque isso daria quase para um outro livro) os erros em matéria de facto com que tropeçamos a cada página. São imensos e alguns são extraordinários. A este propósito talvez possa dar um bom conselho ao leitor: não se deixe intimidar com o tom afirmativo, nem dê de barato frases 'en passant', ao estilo de quem diz o óbvio, que toda a gente tem a obrigação de saber. Em muitos casos, está perante verdadeiros disparates, quase ao nível do Menino Tonecas. Por outro lado, não baixe a guarda quando, em questões marginais, o autor utiliza um humilde tom dubitativo, a aparentar uma abordagem de dúvida científica à matéria. A verdade, insisto, é que por mais voltas que se dê o livro não vale nada do ponto de vista científico.
Quer isto dizer que recomendo ao leitor que não o leia?
Não. Em primeiro lugar por uma questão de princípio. A não-leitura nunca é uma recomendação que se faça. Mas, em segundo lugar, como disse de início, porque pode ser que goste deste tipo de ficção. E que aprecie o livro, não como sendo um livro de História, que verdadeiramente não pode ser, mas como um exercício de imaginação ao estilo de 'O Despertar dos Mágicos' ou de outros do mesmo género que fizeram carreira há umas décadas."

Saber se é verdade ou não se o Infante D. Henrique teve acesso a supostos mapas chineses trocados com os árabes após a conquista de Ceuta é, segundo se vê, um grande mistério dos nossos dias.
Aliás, ainda no sábado passado, quando acordei em Lagos e fui ver a do infante nascido no Porto, não pude deixar de pensar nos segredos incríveis segredos para o mundo que ainda hoje estão enterrados naquelas paragens algarvias...

Notícias do Porto

Para que conste, isto veio hoje no "Diário de Notícias".
Esta é uma crónica de Paulo Morais, o número 2 da Câmara do Porto.
Não parece, mas ele é do PSD.
Do PSD do Porto, entenda-se, por isso é que não parece ser do PSD que conhecemos.

"O novo Estado Novo
Vivemos o início da Primavera de 1974. Setenta e quatro? Digo 2004. São tempos estranhos e pantanosos. O País não tem estratégia. O poder económico pertence a meia dúzia de famílias que, indirectamente, controlam os principais grupos de poder político. Os órgãos de comunicação social são meras correias de transmissão dos diversos tipos de corporativismo.
Como todos os regimes de génese totalitária, este tem os seus apaniguados: como nos tempos de má memória, há hoje uma televisão do regime, que vive da corte e para a corte lisboeta; temos também a rádio do regime, qual Emissora (maçadora) Nacional dos anos 60; mas há ainda o banco do regime ou as obras faraónicas do regime, como a Ota ou os estádios do Euro, dignas sucessoras desse elefante-branco que foi o porto de Sines. Os ícones que simbolizam o regime não acabam por aqui; há pregadores de serviço, catedráticos de encomenda, eminências pardas a cada esquina. Não falta sequer um megaescândalo sexual, envolvendo poderosos e pedófilos, sucedâneo a cores dos ballets rose dos anos 60.
Os órgãos representativos dum Estado que não serve, mas se serve do País, têm por missão a manutenção do status quo e garantem a cosmética do sistema. O Presidente da República pouco mais faz do que cortar fitas, atribuir comendas ou proferir discursos; o Parlamento transformou-se em câmara representativa de partidos tomados pelas corporações; os dirigentes locais são, na sua maioria, escolhidos pelos directórios partidários. Os partidos, quais pequenas uniões nacionais, institucionalizaram o estado corporativo com que Salazar havia sonhado.
Sempre que no pântano alguma voz crítica se exprime, agitando as águas fétidas, logo aparecem as habituais brigadas do reumático, quais velhos do Restelo da modernidade, em defesa da manutenção do imobilismo geral; juntam-se agora a estes as novas brigadas, as da mão fria (fim de tarde de copo na mão!). Se necessário, à imagem de Salazar, acusam os críticos de radicalismo, de terem eventualmente razão no conteúdo da denúncia, mas jamais na forma de a exprimir. Em desespero, lançam até o anátema de antipatriotismo sobre aqueles que não pactuem com os símbolos deste regime decrépito.
Os portugueses, todos nós enfim coitados, vamos modestamente trabalhando. Para quê? Para que no final de cada mês o fisco nos possa extorquir os impostos necessários para sustentar um aparelho de Estado imperial. Distraem-nos com futebol e fado, para que não tomemos consciência colectiva da dura realidade deste povo, condenado a suportar com o suor do seu trabalho uma corte que, na capital do império, se alimenta da intriga, distribui as habituais prebendas pelos seus protegidos e impede o progresso do País.
É claro que as consequências, em termos de desenvolvimento e qualidade de vida, não podem deixar de fazer-se sentir; apesar da pouca fiabilidade das estatísticas, conseguimos, contudo, concluir que somos o mais atrasado país da Europa, com os piores indicadores em termos de saúde e educação.
Trinta anos volvidos, os portugueses, na senda desse crónico sebastianismo, continuam à espera de um novo regime. Já perceberam que esta república de Abril mais não é do que um novo_ velho Estado Novo."

Depois de ler isto só tenho a dizer uma coisa:

Obrigado Paulo.

Divulgação cultural

Para divulgar:

Gavin Menzies, autor de "1421 - O Ano em que a China Descobriu o Mundo", Publicações Dom Quixote, vai estar em Portugal de amanhã até ao fim da semana, para promover o seu livro.
Eis um "cheirinho" da obra:

"Terá sido Cristóvão Colombo o primeiro a descobrir a América em 1492? E Fernão de Magalhães o primeiro a fazer a viagem de circum-navegação do mundo em 1521? Desde sempre a ideia de possíveis contactos entre o Velho e o Novo Mundo procedentes destes grandes feitos suscitou a fantasia de historiadores e curiosos, dando vida a teorias e conjecturas mais ou menos fundamentadas. Neste livro coloca-se uma nova hipótese, baseada na descoberta de antigas cartas náuticas, na análise ao computador de datas astronómicas, na descoberta de despojos de navios no Mar das Caraíbas, entre outras provas. De acordo com Gavin Menzies, foram os chineses os primeiros a atingir a costa americana assim como a fazer a primeira viagem completa à volta do mundo. Sob o comando do lendário almirante Zheng He, uma frota composta por mais de cem navios deixou a China em Março de 1421 para atravessar o oceano Índico, dobrar o Cabo da Boa Esperança e explorar as costas sul-americanas e australianas. Um grupo de exímios cartógrafos terá desenhado um mapa detalhado desta extraordinária viagem. Mapa que depois de várias peripécias terá chegado a Portugal em 1428 e acabado nas mãos dos maiores navegadores europeus."

Sobre o autor:
Gavin Menzies (Oficial da Marinha Britânica, na reserva) nasceu em 1937 na China, onde viveu os dois primeiros anos da sua vida. Entrou para a Royal Navy em 1953 e serviu em submarinos entre 1959 e 1970. Durante a sua carreira percorreu as rotas de Cristóvão Colombo, Bartolomeu Dias, Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e de outros grandes navegadores. Ao longo dos quinze anos de investigação que levou a cabo para escrever este livro, visitou mais de 120 países e mais de 900 museus e bibliotecas.

20040425

Arquivos da CIA

Então apontem lá:

1- Vão ao site oficial da CIA, em www.cia.gov.
2- A página principal tem um mecanismo de busca. Ignorem-no. Vejam na coluna à vossa direita, onde diz "FOIA Electronic Reading Room", e cliquem aí.
3- Aí sim, escrevam a palavra a pesquisar no motor de busca desta página. Por exemplo, para terem acesso a um cópia do documento original que diz que, em 1976, na altura da primeira eleição para a Assembleia da República, Mário Soares não quis fazer uma coligação com o PPD porque tinha um diferendo "pessoal" com Sá Carneiro e que chegou mesmo a confirmar a Frank Carlucci que até aceitaria coligar-se à direita caso Sá Carneiro fosse substituído na liderança do PPD, basta escrever "Carneiro" e procurar o texto de 27 de Abril de 1976 (sem esquecer que as datas destes documentos estão com o padrão norte-americano, onde o mês surge antes do dia e do ano).

20040423

Explicações

----------INFORMAÇÃO---------

Vou explicar hoje, às 21h30, na Biblioteca Municipal de Lagos, e no domingo, às 18h30, na FNAC do Chiado, como se faz uma busca dentro do endereço electrónico da CIA, onde se pode consultar as cópias dos originais dos documentos sobre Portugal que menciono no artigo "A secreta norte-amreicana estava atenta", publicado na edição de hoje do "Tal&Qual".

Para quem não tiver oportunidade de assistir a nenhuma destas duas intervenções e tiver curiosidade em consultar os arquivos da CIA, aviso que pretendo depois colocar aqui as instruções para o acesso aos mesmos.

--------------FIM DA INFORMAÇÃO------------------

20040422

FOI ANTÓNIO LOBO XAVIER!

Meus senhores, tenho a anunciar o fim do desafio "Quem disse isto?"
(Para quem só agora aqui chegou, ver, por favor, uns "posts" um pouco mais abaixo)

Ontem recebi este e-mail:

"caro Frederico,
Realmente, sem esperar, vi-me numa investigação desenfreada para responder ao seu desafio (algo que me interessou, apesar de não ligar muito à política – infelizmente), e acho que encontrei a resposta...
Vejamos os dados fornecidos pelas declarações:
Faculdade de Direito. Em 1974, 'eu entrei para o partido com 14 anos, para a Juventude Centrista, e fui a um comício da JC em Lisboa'.
Ou seja, este político formou-se na Faculdade de Direito, em 74 tinha 14 anos e foi a Lisboa (portanto seria do Porto?). Se acrescentarmos a isto, a sua pista: 'Vou, porém, dar mais uma pista: a afirmação foi publicado num jornal nacional durante a campanha eleitoral das legislativas de 1995.'... (seria ele deputado?) Recorri-me então ao Google e descobri um organismo chamado Stape e que havia um candidato pelo Porto nas Eleições Legislativas de 1995, que tem actualmente 44 anos e é realmente jurista, chamado António Lobo Xavier. Um homem conhecido pelo seu carácter belicoso e também por pertencer à Opus Dei...
Será ele?"

Respondi depois a este e-mail pedindo mais dados sobre a investigação antes de anunciar formalmente o fim do desafio.
Na resposta recebi a seguinte mensagem:

"Depois de ler e reler a citação e a tua pista decidi pegar num dos melhores motores de busca da Net (passe a publicidade) e colocar dados como Partido Popular, 25 de Abril e Legislativas de 1995, mas não estava a ver nenhuma ligação. depois, graças a uma sugestão de um amigo ('o gajo foi para Lisboa, não era de Lisboa'), voltei a reler o texto e pensei: 'exactamente ele foi a um comício a Lisboa e tinha 14 anos na altura. se acrescentar a pista do Frederico... presumo que era um candidato doutro sítio... mas qual?'. eis que então tentei entrar no site do CDS/PP e nada. estava offline. então recorri outra vez ao Google colocando no search do google.pt: 'Resultados Eleitorais' 'legislativas 1995'. E aí fui descobrir uma organização chamada Stape (que confesso que desconhecia) e à página www.stape.pt/guia.asp. Clicando em 'Resultados Eleitorais' fui dar a www.stape.pt/resultados.htm e aí encontrei a opção 'Consulta de Resultados Eleitorais – 1975 a 2002'. Cliquei. Fui parar a http://stape.ef.pt:85/menu.asp. Cliquei em 'Os Candidatos e os Eleitos' (pareceu-me lógica a opção) e fui parar a http://stape.ef.pt:85/candidatos/candidatos.asp, onde fiz uma busca por 'Cargo' (deputado à Assembleia da República) e por 'Distrito' (escolhi o do Porto, por palpite confesso). Aí deparei-me com três nomes e a dúvida colocou-se: 'Quem será?', 'Será que é o distrito certo?' Voltei ao Google e pesquisei por 'António Lobo Xavier' (que até à altura não estava a ligar com o bacano do Porto) e descobri que ele era jurista, conselheiro da Sonae, membro da Opus Dei e que tinha 44 anos actualmente... BINGO!
Ou seja, foi tudo uma questão de sorte, de intuição e de um amigo atento (porque confesso, a minha grande lacuna é ser apartidário, não perceber nada de política e não saber muito, infelizmente, sobre o 25 de Abril).
espero que tenha sido claro e te tenha explicado bem o meu raciocínio. se precisares de mais alguma coisa já sabes..."

Perante toda esta descrição detalhada tenho que anunciar mesmo o fim do desafio e dar os parabéns a alguém que conseguiu responder à primeira (e que deseja manter o anonimato).
Mais acrescento que a referida citação de António Lobo Xavier, actual comentador político no programa da SIC-Notícias "A Quadratura do Círculo", foi originalmente publicada na edição de 26 de Setembro de 1995 do "Diário de Notícias".

"Eu Sei Que Você Sabe" - Tour 2004

-------INFORMAÇÃO-------------

Vou apresentar o meu livro "Eu Sei Que Você Sabe - Manual de Instruções Para Teorias da Conspiração", amanhã, sexta-feira, na Biblioteca Municipal de Lagos, às 21h30.

E, no domingo, dia 25 de Abril, quando forem 18h30, altura em que, há 30 anos, Spínola recebeu o poder das mãos de Marcello Caetano, também vou falar do livro no fórum da FNAC do Chiado.

Quanto ao meu próximo livro, "Abril Sangrento", informo que o mesmo só deverá sair no início de Maio.

------- FIM DA INFORMAÇÃO---------------

20040421

Torre Bela

Muita atenção ao DVD que o "Público" vai editar no próximo dia 5 de Maio: "Torre Bela", de Thomas Harlan. É um documentário sobre a ocupação da herdade de Torre Bela, com cenas únicas. Aquele diálogo de "a tua pá é nossa, ó pá!", é de antologia...
A primeira (e última) vez que vi este documentário foi há 10 anos, em Abril de 1994, num quarto de hotel em Cannes. Passou no canal franco-germano "Arte" e fiquei a absorver aquelas imagens e sons completamente novos para a minha mente. Nunca as tinha visto em Portugal. Nunca mais as vi depois.
Foi nessa altura que comecei a questionar-me sobre o 25 de Abril... O canal "Arte" ainda exibiu uma extenção a este documentário com um "Torre Bela - 20 anos depois". Lembro-me de ter visto uma entrevista com António Barreto onde ele dizia aos repórteres franceses que "nós, em Portugal, em relação ao 25 de Abril, somos um pouco como os franceses em relação à Segunda Guerra Mundial: não contamos tudo aos mais jovens".

20040420

Dia de S. Valentim

Quero desde já mandar daqui, de uma forma inequívoca e pública, o meu abraço de solidariedade ao major Valentim Loureiro.
Se eventualmente se vier descobrir que roubou, então direi que o Robin dos Bosques também roubou aos ricos para dar aos pobres.
Só acredito na justiça e na verdadeira investigação policial ao mundo do futebol quando outros nomes derem à costa.

20040417

Desafio

Ainda não recebi qualquer resposta correcta à pergunta do "Quem disse isto?"
Quero, contudo, informar que só considerarei como resposta válida as mensagens enviadas para o e-mail deste blogue. Até lá, não farei qualquer comentário a quem decidir colocar no seu blogue uma possível resposta e não me mande depois qualquer e-mail a pedir confirmação.
Por outro lado, não gostaria de estar a considerar tentativas de respostas.
Este desafio destina-se a testar a memória ou a capacidade investigativa.
Vou, porém, dar mais uma pista: a afirmação foi publicado num jornal nacional durante a campanha eleitoral das legislativas de 1995.
Mais não digo.
Assim que receber a primeira resposta correcta no meu e-mail, anunciarei o fim do desafio.
Caso não me chegue qualquer resposta até domingo, dia 25 de Abril, então revelarei aqui, finalmente, o nome desse político.
Boa caçada!

O desafio do "Quem disse isto?"

Ainda não recebi qualquer resposta.
O desafio lançado esta manhã ainda se mantém...
Para quem só chegou agora, eis a repitação do "post":

Vou lançar aqui um pequeno desafio à memória ou à capacidade investigativa nacional.
Ofereço um almoço ou jantar (num restaurante à minha escolha e prometo não ser sovina) à primeira pessoa que descobrir quem foi o político que, em 1995, disse o seguinte durante uma entrevista:

"Eu não esqueço actuações do dr. Durão Barroso enquanto membro do MRPP, na faculdade de Direito. Conheci as agressões e os enxovalhos que provocou em professores que eu respeito muito e, por outro lado, tenho um traumatismo que não me importo de revelar publicamente. Em 1974, eu entrei para o partido com 14 anos, para a Juventude Centrista, e fui a um comício da JC em Lisboa. Esse comício foi assaltado por manifestantes da extrema-esquerda, que agrediram e queriam ainda agredir mais jovens entre os 14 e os 18 anos - que se encontravam pacificamente a manifestar-se pela liberdade, a querer adquirir direito ao funcionamento de uma estrutura partidária - eu era muito novo, repito-lhe, e refugiei-me na sede do partido, que foi também assaltada. À frente desse assalto, participando nele com grande evidência, estava o dr. Durão Barroso. Senti, na altura, claramente, que o propósito dessa multidão era efectuar alguns linchamentos. Era muito novo, repito-lhe, essa coisas não passam... simplesmente... por muitas profissões de fé sociais-democratas que o dr. Durão Barroso possa fazer, essa imagem nunca desaparecerá de mim, e pedir-me para confiar nele é pedir-me o impossível".

As respostas devem ser enviadas para o e-mail deste blogue.
Assim que chegar a primeira resposta correcta, anunciarei o fim do desafio.
Caso não chegue nenhuma resposta correcta até ao dia 25 de Abril, então nessa altura revelarei a identidade do político.

Marrocos...

Graças ao Letras com Garfos fiquei a saber um pouco mais sobre Marrocos...

"Um contra todos"

Estou chocado.
Ou melhor, indignado. Se calhar, triste até será o melhor sentimento que exprime a minha pessoa neste momento.
Vi há pouco o concurso "Um Contra Todos", na RTP, onde uma menina ganhou 50 mil euros.
E a que perguntas teve ela de responder para tal?
Veja-se:
Ela já vinha de três perguntas da edição anterior e, a primeira de hoje, era "Qual destas obras não foi escrita por Camilo Castelo Branco?", sendo estas as alternativas: A - "O Crime do Padre Amaro"; B - "Amor de Perdição" e C - "A Queda de um Anjo".
A menina ainda se sentiu tentada a "arriscar" na resposta "C", mas o apresentador, José Carlos Malato, "travou-a" a tempo e convenceu-a a gastar 25 por cento do seu dinheiro.
Pior ainda foi quando metade dos 23 concorrentes ainda em jogo demonstraram não saber que "O Crime do Padre Amaro" é uma imortal obra do grande escritor português Eça de Queiroz... E, muito provavelmente, alguns dos que acertaram deveriam pensar que aquilo era um filme mexicano... Mas, avancemos.
A segunda pergunta foi: "'Ganhar a Vida' é um filme de:" A - João Botelho; B - João Canijo e C - João Mário Grilo. A concorrente voltou a pagar e gastou 50 por cento do dinheiro que ainda tinha para saber que era João Canijo. Não ganhou nada com eliminação de mais alguns concorrentes. Adiante.
"Qual é a capital das Bahamas?", Nassau, S. José ou Manágua? Todos os 4 concorrentes que sobravam sabiam que era Nassau, menos a concorrente que teve de, mais uma vez, comprar a resposta, ficando sem 75 por cento do valor que dispunha, ficando assim apenas com mil euros. E sem ajudas.
Então, a menina lá resolveu fazer a "loucura total" na pergunta seguinte: "O francês Henri Cartier-Bresson é um famoso:" A - Encenador; B - Escritor e C - Fotógrafo. Já sem quase nada para perder, resolveu arriscar na resposta "C" e dobrar.
Eis então que tem a incrível sorte de eliminar os quatro concorrentes que restavam e dobrar os 25 mil euros que eles representavam no total!
51 mil euros!
Sem saber ler nem escrever.
A isto é o que se chama de democracia.

20040416

Os "enganos" do 25 de Abril

Recebi uma mensagem de um jornalista amigo (amigo porque perdeu parte do seu tempo a escrever-me), para dizer que ando enganado nas minhas conclusões em relação ao 25 de Abril e certos factos do processo conspirativo.
Concordei com ele. Respondi-lhe que andava enganado, tal como todos nós temos andado enganados nestes últimos 30 anos.
Houve gente que há 30 anos fez "coisitas pequeninas", mas de grande alcance e maiores do que elas próprias. Porém, não lhes contaram a história toda.
Por isso é que José Mário Branco dizia: "Houve aqui alguém que se enganou"...

O Porto suprimido

Reproduzo aqui o "post" de 13 de Fevereiro (por uma razão que não entendo, não consigo aceder aos meus arquivos). É para contextualizar o "post" que depois se segue sobre a carta de leitor de hoje no diário "Público".

O Porto suprimido
"O Porto deprimido", intitula hoje Miguel Sousa Tavares a habitual crónica de sexta-feira no Público.
Não concordo que o Porto ande deprimido. Na minha opinião anda é "suprimido".
Anda suprimido da importância que teve no tempo em Fernando Gomes era o presidente da Câmara.
Onde está esse autarca que projectou uma voz reivindicativa face ao poder de Lisboa?
Onde anda o autarca que fez obra que se viu e ainda se vê?
Anda pura e simplesmente suprimido.
Fernando Gomes, ouvi da boca de um político do PSD, há uns dois anos, só foi grande no Porto e teve aquela importância toda precisamente porque os governos do PSD, entre 1989 e 1995, decidiram que era melhor dar-lhe relevo e projectar a imagem de uma voz incómoda como táctica de enfraquecimento da direcção do PS em Lisboa... Cruel.
Desde que o PS chegou ao poder, o Porto esvaziou-se. Depois foi a aventura desastrosa de Fernando Gomes em Lisboa, como ministro da Administração Interna (nunca tanta bomba de gasolina foi tão assaltada). A demissão de Gomes foi uma conquista de certos grupos dentro do próprio PS.
Foi o PS que "suprimiu" o Porto.
O Porto, é preciso que se diga, não é o FC Porto por muito que as suas conquistas desportivas internacionais nos orgulhem a todos os que se dizem portugueses.
O Estádio das Antas, o de 1952, foi inaugurado a 28 de Maio, dia do regime. O FC Porto sempre estará com o regime que estiver... em Lisboa, bem entendido.
Por isso é que o presidente do FC Porto não está com Rui Rio, pois esse está sozinho contra todos... Também está suprimido.
Rui Rio está suprimido no PSD que manda desde Lisboa, porque não querem que ele tenha a mesma voz reivindicativa que tinha Fernando Gomes, a ponto de, a certa altura, até ter sido considerado como um provável candidato a candidato à Presidência da República. Alguém se lembra? Eu lembro-me.
Rui Rio também anda suprimido do PS, que não o pode enfrentar como o PSD fez então com Fernando Gomes, projectando-o quase como o verdadeiro líder da Oposição.
Por isso é que o Porto anda "suprimido".
Talvez adormecido, à espera de alguém que o acorde.
Mas não anda deprimido.

P.S. Esta semana fechou mais uma sala de cinema no Porto. A sala da Castello Lopes, no Central Shopping fechou. Sobram cinco salas de cinema na cidade, sendo que quatro delas estão no centro comercial Cidade do Porto. O outro cinema é o Nuno Álvares, todos da Medeia. A Casa da Música, projecto do Porto2001, deverá estar concluída ainda este ano. Em Novembro...

Postais de Lisboa

No diário "Público" de hoje, numa carta de leitor, Ricardo Cruz, que é economista e professor universitário, critica a crónica "O Porto deprimido", escrita por Miguel Sousa Tavares, a 13 de Fevereiro.
Se conseguirem consultar os arquivos deste blogue poderão constatar que, naquele mesmo dia, escrevi aqui um comentário intitulado "O Porto suprimido", onde explico as razões para tal supressão.
Hoje, ao ler a carta de Ricardo Cruz, que não conheço, não pude deixar de notar que na parte final da mesma diz o seguinte:

"Em M.S.T., habituei-me a elogiar a procura da verdade. Porquê, então, bazófia tão suburbana? Vamos crer que M.S.T. apenas conhece mal o Porto. Porque o Porto que alguns gostariam de ver deprimido - ou suprimido - é o Porto que está vivo e que, com o país, mostrará que o caminho do futuro é outro que não este. É o Porto das pessoas. Esse é o meu Porto".

Não reclamo para mim o direito de autor da palavra "suprimido" em jogo directo com o "deprimido", mas constato que a palavra pegou. Agora, na resposta a este leitor, Miguel Sousa Tavares, escreveu o seguinte:

"Queria apenas esclarecer o leitor que não fui eu que inventei que o Porto anda deprimido. De há meses para cá que não oiço outra conversa no Porto e às gentes do Porto. Mas se alguém de fora (mesmo alguém tão ligado ao Porto como eu) se atreve a reproduzi-lo, vem logo a acusação de 'sobranceria' e o inevitável queixume de que eu não sei o que é 'ter de ir a Lisboa para carimbar um papel' (sempre gostava de saber que extraordinários papéis serão esses...). É a isto exactamente que eu chamei provincianismo e que, ao contrário do bairrismo - coisa diferente e saudável - é hoje a maior força antiprogresso e a maior causa de depressão do Porto".

Eu, como cidadão português e natural da cidade do Porto onde vivi 24 anos dos meus 31 anos de vida (estou em Lisboa desde 1997), tenho a dizer que só estou em Lisboa porque, naquela altura, para poder entrar para os quadros do semanário "Tal&Qual" disseram-me que teria de vir trabalhar para Lisboa, pois bastava-lhes ter uma única pessoa no Porto.
Quanto aos "extraordinários papéis" referidos por Miguel Sousa Tavares, não iria tão longe em algumas observações, mas gostaria de referir aqui o facto de as pessoas do Porto, quando precisam de falar directamente com uma determinada pessoa que vive na capital ou têm de consultar os arquivos de algum organismo centralizado, são obrigados a gastar um dia inteiro de viagem para sair da sua terra, vir à capital, e regressar à noite para junto da família.
A uma pessoa da capital não se lhe pede este sacrifício.
Por isso é que os portuense (e demais cidadãos de fora da capital), são obrigados a ser organizados, válidos e empenhados.
Falta-lhes depois a compreensão das gentes da capital (recordo que uma das primeiras coisas que ouvi quando cheguei a Lisboa foi: "Não sei porque os portuenses dizem mal de nós. Nós nunca falamos de vocês...", ao que eu respondi: "Por isso mesmo!")
Sem esquecer ainda que todas as deslocações do Porto a Lisboa custam dinheiro.
Se o portuense não vier em comboio, mas sim em camioneta (que demora sensivelmente o mesmo tempo, mas fica mais barata), paga 26 euros, ida e volta. Sete horas de viagem no total. Refeições em Lisboa não ficam por menos de 10 euros. Transportes locais, se tiver de ser táxi - para aproveitar faixas bus e não arriscar atrasos nas ligações de metro -, nunca gastará menos de 15 euros. Sem esquecer mais uns 10 euros no Porto. Jantar, depende...
No total, um dia normal de trabalho para um portuense que tenha de investir pessoalmente numa vinda a Lisboa, sem gastar muito, chega facilmente aos 60 euros...
Para ganhar quanto? Os 100 euros que Lisboa depois lhe pagará?
E vai deduzir quanto em impostos? 20 euros?
Quanto tira depois de lucro? 20 euros?
E o colega de Lisboa?
Quanto gasta ele para fazer o mesmo trabalho?
Se calhar só paga o bilhete de metro, pois pode poupar a comer em casa dos pais.
Para o cidadão de Lisboa é tudo lucro e, o pior, é que depois nem sequer dá o devido valor ao trabalho que teve...
Por isso é que os portuenses são gente de outra raça.
Se Miguel Sousa Tavares sabe isso e não o diz, então é porque se esqueceu... Só pode ser.

Almoço em S. Bento

O Nobel da Literatura, José Saramago, almoçou ontem em S. Bento com o primeiro-ministro Durão Barroso, que lhe terá pedido desculpas públicas pelo facto do escritor ter sido censurado pelo Governo, numa candidatura a um prémio literário europeu há cerca de 10 anos, altura em que o PSD estava no poder.
Não se sabe, porém, se Saramago, por sua vez, pediu desculpas a Durão Barroso pelo facto de, em 1975, quando era director do "Diário de Notícias", ter saneado jornalistas por serem apoiantes do PPD (antigo PSD)...

Quem disse isto?

Vou lançar aqui um pequeno desafio à memória ou à capacidade investigativa nacional.
Ofereço um almoço ou jantar (num restaurante à minha escolha e prometo não ser sovina) à primeira pessoa que descobrir quem foi o político que, em 1995, disse o seguinte durante uma entrevista:

"Eu não esqueço actuações do dr. Durão Barroso enquanto membro do MRPP, na faculdade de Direito. Conheci as agressões e os enxovalhos que provocou em professores que eu respeito muito e, por outro lado, tenho um traumatismo que não me importo de revelar publicamente. Em 1974, eu entrei para o partido com 14 anos, para a Juventude Centrista, e fui a um comício da JC em Lisboa. Esse comício foi assaltado por manifestantes da extrema-esquerda, que agrediram e queriam ainda agredir mais jovens entre os 14 e os 18 anos - que se encontravam pacificamente a manifestar-se pela liberdade, a querer adquirir direito ao funcionamento de uma estrutura partidária - eu era muito novo, repito-lhe, e refugiei-me na sede do partido, que foi também assaltada. À frente desse assalto, participando nele com grande evidência, estava o dr. Durão Barroso. Senti, na altura, claramente, que o propósito dessa multidão era efectuar alguns linchamentos. Era muito novo, repito-lhe, essa coisas não passam... simplesmente... por muitas profissões de fé sociais-democratas que o dr. Durão Barroso possa fazer, essa imagem nunca desaparecerá de mim, e pedir-me para confiar nele é pedir-me o impossível".

As respostas devem ser enviadas para o e-mail deste blogue.
Assim que chegar a primeira resposta correcta, anunciarei o fim do desafio.
Caso não chegue nenhuma resposta correcta até ao dia 25 de Abril, então nessa altura revelarei a identidade do político.

20040414

Brava gente lusitana

Vi agora na televisão uma reportagem sobre uma empresa francesa de componentes de automóveis, a "Valeo", que teve de fechar a sua fábrica no Norte de Portugal (creio que em Santo Tirso), visto que se mudou para Marrocos, onde consegue ter mão-de-obra mais barata.
Interessante foi ver a reacção de uma jovem desempregada a dizer que "até se compreende" esta mudança, pois eles "tiveram de ir para outro país", onde pagam menos aos trabalhadores.
Brava gente lusitana, que até compreende estas situações dos empresários e não se preocupa em saber porque em Marrocos a mão-de-obra será mais barata. Sinceramente, também ainda não sei. Mas, se me permitem especular, quase de certeza que não será porque os trabalhadores marroquinos estão tão ricos e sem nada para fazer que, de tão aborrecidos que estariam, nem se importavam de trabalhar para os franceses por menos dinheiro apenas para matar tempo...

Vozes do Norte

Às vezes, no Porto, sabe-se mais do que se passa em Lisboa.
O contrário também é valido, mas no portuense "Jornal de Notícias", no domingo, dia 11, o deputado socialista Fernando Gomes, antigo presidente da Câmara do Porto e um dos mais atacados ministros da Administração Interna que este país teve, escreveu isto (com os destaques a negro da minha responsabilidade):

"Um prestigiado empresário nortenho, reconhecidamente simpatizante do PSD, dizia-me esta semana que a política económica adoptada por este Governo era inevitável. Segundo ele, foi necessário mudar o discurso e a postura do Executivo para acabar com a ideia instalada de um certo facilitismo que fazia os portugueses viverem muito acima das suas possibilidades (...)
Acrescentou que a política de contenção e rigor levada a cabo nestes dois anos, não teria sido possível sem a determinação e a coragem da ministra das Finanças e que sem a sua teimosia o Governo já teria cedido às pressões imensas que lhe chegam de todo o lado, incluindo de muitas estruturas partidárias. Mas que, agora, era chegado o momento de encontrar uma saída digna para Manuela Ferreira Leite. Nesta fase impunha-se uma certa abertura na política económica, ao que ela não estaria ainda sensível. Como tal, prosseguiu, o ideal era colocá-la à cabeça da lista para o Parlamento Europeu, aproveitando a remodelação governamental a levar a cabo antes das eleições europeias.
Sabendo como este empresário é ouvido nas questões económicas pelo partido com que simpatiza, resulta para mim claro que esta opinião não é, apenas, a de um conceituado investidor, mas antes a de um interlocutor privilegiado. E, logo, resulta também que Manuela Ferreira Leite, dada a sua natural intransigência, se transformou num incómodo para o PSD - mantê-la no Governo significa a continuidade de uma política económica impopular, incompatível com o ciclo eleitoral que se inicia em 2005; despedi-la sem uma saída airosa, quando se prestou a um enorme desgaste para levar por diante políticas tão restritivas, pode dar a ideia de cedência fácil a pressões e pode ser entendido como uma tremenda ingratidão. (...)"

Finalmente, ontem, terça-feira, dia 13, o jornal electrónico "Portugal Diário" (PD), noticiava:

"Ministra das Finanças pode abandonar Executivo. Para encabeçar lista para as Europeias ou para ocupar cargo de comissária europeia

A ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, pode vir a ser uma das ministras remodeláveis por Durão Barroso. 'Não por uma razão de incompetência, mas como forma de reconhecimento do seu trabalho e de a libertar do fardo pesado que tem feito até aqui', garantem fontes próximas da direcção do PSD.
Os 30 anos do 25 de Abril sobrepõem-se em importância e, por agora, a coligação PSD/CDS-PP apenas adianta que o cabeça de lista para as europeias deve 'gostar de fazer política'. Fora isso não houve convites nem recusas de convites, garantem os vice-presidentes do PSD e PP. Certo é que Manuela Ferreira Leite é cada vez mais apontada como estando de saída do Governo.
A dúvida reside num facto - para onde irá a ministra? Fontes próximas da direcção do PSD, adiantaram ao PortugalDiário que Durão Barroso pensa colocar a ministra como a cabeça de lista da coligação PSD/CDS-PP para as próximas eleições europeias. (...)."

20040413

Mensagem para quem chega aqui pela primeira vez...

Este meu blogue não pretende "recrutar" ninguém para uma causa, não deseja "doutrinar" os seus leitores, nem pretende colocar as pessoas a pensar de forma diferente.
É apenas um depósito de pensamentos de uma única pessoa, que surgem mais ou menos alinhavados e procuram registar as evoluções dos acontecimentos diários, que ocorrem a uma velocidade cada vez mais rápida.
É uma espécie de partilha diária com constatações e acumular de informação que poderá apenas ajudar, quem aqui quiser passar mais vezes, a encontrar outras verdades.
Poderão aqui existir outras alternativas às informações que nos passam ao lado e que acabam por ter influência nos nossos dias cinzentos.
Quem conseguir encontrar beleza fora daqui, que seja feliz e a conserve.
Essa beleza vale muito mais do que vai descobrir nestas minhas preocupações.
Para finalizar, como já disse há algum tempo, comprei o livro "A Ilusão do Fim", do sociólogo francês Jean Baudrillard, onde li isto que agora partilho: "Se tomarmos a sério a milésima parte do que se passa num noticiário televisivo, estamos tramados. Mas a televisão protege-nos disso. O seu uso profilático protege-nos de uma responsabilidade insuportável. O seu efeito e as suas imagens autodestroem-se mutuamente nas consciências. Será então o fim da comunicação? Evidentemente: as pessoas temem a comunicação como a peste".

20040412

O relatório de 6 de Agosto

A 6 de Agosto de 2001, o presidente Bush foi informado das ideias de Bin Ladin. Parte desse relatório foi agora divulgado, onde podemos constatar que se aludia a desvio de aviões e que o nome Nova Iorque era citado.

20040406

Nesta noite, há 30 anos

Foi nesta noite de 6 de Abril, há 30 anos, em Brighton, Inglaterra, que o grupo sueco Abba, ganhou o festival da Eurovisão com a canção "Waterloo".
A 19 dias do 25 de Abril, Paulo de Carvalho cantou nessa mesma noite o seu "E Depois do Adeus", a canção que seria a primeira senha da revolução.
Em Portugal, a 6 de Abril, conspirava-se.
Otelo Saraiva de Carvalho, desde o dia 24 de Março, tinha a seu cargo a tarefa de preparar um golpe militar antes do dia 1 de Maio.
A data para tal acção seria entre os dias 20 a 29, mas todos os militares sabiam que um golpe com aquelas características, para ser bem sucedido, teria de acontecer numa terça, quarta ou quinta-feira. Para haver tropa nos quartéis, pois o das Caldas falhara porque fora numa noite de sexta-feira para sábado...
Olhando para o calendário, vemos que, antes do 1 de Maio de 1974, a última noite de quarta para quinta-feira era a de 24 para 25 de Abril...
Há 30 anos, nesta mesma noite de 6 de Abril, a rotativa que imprime o "Diário de Notícias" vai registar uma pequena mas significativa informação: o embaixador norte-americano em Lisboa irá estar ausente de Lisboa, em visita ao Açores, entre os dias 20 a 25...
O plano está em marcha e todos conhecem bem o seu papel...
Todos menos o povo.
Por isso é que, dias depois, o plano militar correu mal...

Entrevista

E esta é a notícia da Agência Lusa com a entrevista que me foi feita:

25 Abril: Livro questiona democracia após hipotética revolução sangrenta
Lisboa, 06 Abr (Lusa) - Trinta anos depois da revolução dos cravos, o jornalista Frederico Duarte Carvalho questiona, no livro "Abril Sangrento", como estaria Portugal se, à data, tivesse ocorrido um banho de sangue e não uma revolta pacífica.
A hipótese do "massacre do Carmo", avançada pelo autor, serve apenas de mote para levantar outras questões relacionadas com a liberdade, a democracia, o carreirismo dos políticos e a apatia dos jornalistas, como explicou Frederico Carvalho em entrevista à Lusa.
"Ainda há verdades por revelar acerca do 25 de Abril, existem documentos secretos em cofres dispersos por dois ou três países e diversas informações por descobrir", salienta o jornalista do Tal & Qual, falando a propósito da sua primeira incursão pela literatura.
O autor, que admite sentir "falta de liberdade", alicerça a sua trama num outro Portugal - erguido após um "banho de sangue" no Largo do Carmo, em Lisboa -, e utiliza esse cenário para colocar algumas perguntas que se aplicam ao país real.
A publicar na segunda quinzena do mês com chancela das Edições Polvo, "Abril Sangrento" enlaça factos e ficção: "Faço referência a diversos acontecimentos históricos até à data da revolução, a partir da qual a história segue de acordo com a imaginação", disse o autor.
Fazendo referência a um artigo sobre a situação portuguesa publicado a 08 de Abril de 1974 no jornal Washington Post, Frederico Duarte Carvalho sublinha a novidade do dado histórico e garante que "a informação existe e muita está disponível, mas é preciso consultá-la e, sobretudo, cruzá-la".
Defendendo que "é preciso discutir e responsabilizar a democracia", o jornalista e escritor afirma que os partidos não promovem o debate, "apesar de ser evidente que a democracia precisa de ser refrescada por novos nomes, por pessoas menos apegadas ao poder".
"Acredito na democracia, mas não nestes democratas que hoje temos", declarou Frederico Carvalho à Lusa, acrescentando que "muitos políticos já estavam no meio há 30 anos; só conhecem a carreira nos partidos e nos governos, pouco ou nada sabem do povo".
O autor de "Abril Sangrento" também não poupa a classe jornalística, "que está muito desunida, o que só facilita as manobras do patronato", e critica ainda os jornalistas mais jovens, que pouco conhecem do passado e "não sabem o que foi a revolução".
Frederico Duarte de Carvalho lamenta igualmente "que muitos jornalistas que lutaram contra a censura no período da ditadura tenham, posteriormente, sido comprados pelo poder, silenciados ou, por outro lado, se tenham cansado de lutar e preferido o comodismo".
Não temendo as reacções que possam vir à sua crítica aos rostos políticos e à indiferença dos média, o autor afirmou à Lusa não ter expectativas muito definidas quanto à recepção do livro por parte do público em geral.
"Embora não tenha tido um leitor específico em mente quando estava a escrever, espero que o livro ajude a espicaçar o interesse e a curiosidade dos leitores mais jovens", revelou o autor, incentivando as novas gerações a procurarem a verdade "pelo seu próprio pé".
Frederico Duarte Carvalho nasceu no Porto em 1972, estudou na Escola Superior de Jornalismo e começou por trabalhar n´O Primeiro de Janeiro, tendo sido também autor das perguntas do programa televisivo "Doutores e Engenheiros" (1993-94).
Desde 1997 em Lisboa, é actualmente um dos jornalistas mais antigos do Tal & Qual, tendo já dado à estampa "Vítor Baptista - O Maior" (1999), "Capitão Roby" (2000, em parceria com Jorge Veríssimo Monteiro) e "Eu Sei que Você Sabe" (2003).
HSF.



"Abril Sangrento"

Conto dar mais informações, em breve, sobre o meu próximo livro, "Abril Sangrento".
Para já, fica aqui esta primeira notícia.
Para ver mais blogues sobre o 25 de Abril, sugiro ainda que visitem o PC.

20040404

"Foi ele!"

De acordo com as notícias que chegam de Madrid, o alegado cabecilha das explosões de 11 de Março terá falecido na explosão do seu apartamento quando estava cercado por polícias...
Faz-me lembrar aquela cena do filme "A Lista de Schindler", onde o "kapo" do campo de concentração manda formar uma fila de prisioneiros judeus e ameaça matá-los, um a um, caso não confessem quem roubou uma galinha. Como ninguém confessa, dá um tiro num deles, que cai morto no chão. Uma criança na fila desata a chorar e o "kapo" pergunta-lhe se foi ele quem roubou a galinha. O petiz diz que não, mas afirma saber quem foi e, de imediato, aponta para o corpo do judeu caído no chão e diz: "Foi ele!"

20040403

República Portuguesa de Carlucci, SA

Primeiro facto - Notícia de hoje do "Correio da Manhã":

"CARLYLE CONVIDADA PARA A GALP
Tal como o Correio da Manhã anunciou oportunamente, o Grupo americano Carlyle, que tem como director-geral o ex-embaixador americano Frank Carlucci, foi formalmente convidado pelo Governo português para ser um parceiro estratégico da Galp Energia.
Esta decisão terá decorrido de uma reunião realizada no final de 2003 que juntou Carlucci, Durão Barroso e António Mexia, onde foi delineada a estratégia da Galp em relação ao Iraque (que se concretizará através de apoio ao nível das infra-estruturas de exploração).
Para além do Grupo Carlyle, o Governo convidou também um grupo português, o Viacer, que controla a cervejeira portuguesa Unicer, e integra os grupos portugueses Violas (46 por cento), ARSOPI (28 por cento) e Banco Português de Investimento (26 por cento). Também foi convidado para "parceiro estratégico" o fundo de capital risco norte- americano CVC, que controla a papeleira Lecta, candidata à privatização da Portucel.Os americanos substituem os italianos da ENI."

Segundo facto - Página 86 do meu livro "Eu Sei Que Você Sabe - Manual de Instruções Para Teorias da Conspiração", edições Polvo, de Novembro de 2003:

"E a última vez que Carlucci esteve em Portugal foi recebido por esse outro ex-militante de um partido de extrema-esquerda, o primeiro-ministro Durão Barroso.
Será que trouxe uma 'mensagem' da parte do seu amigo, o secretário de Estado da Defesa Donald Rumsfeld? Para melhor situarem no tempo o dia dessa visita, recorde-se que foi na véspera de Durão Barroso viajar para os Açores, onde foi o anfitrião da cimeira entre Bush, Blair e Aznar. Aquela que antecedeu o anúncio do ultimato a Saddam Hussein. Está visto agora como Portugal é um bom aliado dos EUA. Tudo graças ao trabalho de homens como Frank Carlucci e de políticos aliados que reconhecem a utilidade dos antigos jovens do MRPP, como é o caso de, por exemplo, Mário Soares.
Mas, quem diz que isto é mau para o nosso livre arbítrio como Nação soberana são apenas os defensores das teorias da conspiração, não é? Os nossos políticos seriam lá capazes de nos esconder alguma coisa..."

Não me recordo de outra visita de Carlucci a Portugal depois de 15 de Março de 2003, véspera da cimeira dos Açores. É possível que esteja enganado, porém também não é importante para concluir que, 30 anos depois do 25 de Abril, pouco mudou em Portugal. Que estes dois factos sirvam para, mais uma vez, responder à pergunta do Rui Branco, do Adufe, que era "O que houve de bom nestes 30 anos de democracia?"
Está à vista que, para Durão Barroso, e para homens como Frank Carlucci, ainda hoje continua a haver muita coisa boa...

(Agradeço à pessoa amiga que me indicou esta notícia de hoje do "Correio da Manhã" e sugiro ainda uma visita à Grande Loja que escreveu isto ontem:

"A Grande Loja sabe que no passado dia 4 de Abril de 2003, o Grupo Carlyle esteve em Lisboa , onde o tema da reunião foi o fornecimento de armas as forças da coligação que estão no Iraque.
Se acham tudo isto terrível, informamos que os activos da SBC – Saudi Bin laden Corporation – são geridas pelo Carlyle Group, como contrapartida da vitória da família Bush nos concursos do petróleo no Bahrain atráves da companhia Harken Energy Corporation.
Depois da muito mal contada história da Asat Trust e à qual voltaremos em breve, que a Grande Loja aqui denunciou em primeira mão em Portugal, obrigando a GALP a desmentir-se publicamente, o que tem Carlos Tavares a dizer disto ?.
Nada certamente.
Deixará para Pedro Pires de Miranda ?
Ou será que Durão, regressado de Moçambique, terá reservada uma grande surpresa?")

20040402

Rua Augusta

Numa ida, hoje, à Rua Augusta, dei por mim dentro da tenda da feira do livro manuseado. Comprei por 2.50 euros "A Ilusão do Fim", de Jean Baudrillard e, por 3 euros, um livro de poesia de Joaquim Castro Caldas.
Também consegui um exemplar de "Os Papéis de K.", de Manuel António Pina por 5 euros.
Ainda não foi desta que encontrei um livro meu à venda nas pechinchas...

"O que houve de bom nestes 30 anos de democracia?"

Esta é uma pergunta que o Rui Branco, do Adufe resolveu lançar.
Para mim é difícil responder, pois, como tenho 31 anos, não posso fazer uma comparação com a vida anterior à revolução.
Posso, contudo, deixar certas reflexões:

1- A PIDE.
Segundo nos contam (e não duvido), a PIDE era uma polícia terrível que fazia escutas ilegais, prendia pessoas por motivos políticos e torturava-as. Hoje, já não existe essa polícia política, mas basta ir visitar as nossa cadeias, constatar o excesso de detidos, as longas prisões preventivas, péssimas condições de saúde e ver a quantidade droga que ali entra para perceber as mudanças nesta área.
Sobre a perseguição política, apenas digo que hoje já não existe a necessidade de prender alguém por causa das suas ideias políticas. Basta cortar-lhes o direito à palavra na Imprensa ou dar-lhes um emprego chorudo num qualquer escritório de uma companhia privada. O sector da banca é o preferido para calar vozes descontentes para os políticos no activo.
Para concluir a análise à polícia secreta, cito aqui uma notícia que elaborei a semana passada para o "TAL&QUAL", com o titulo "Portas apoia 'secretas'", onde o ministro da Defesa terá dito que é necessário acabar com a ideia "politicamente correcta", de que os serviços de informações prejudicam o Estado e os cidadãos...

2 - A Economia.
Segundo me dizem, há 30 anos havia uns poucos empresários que eram donos de Portugal. Depois do 25 de Abril houve nacionalizações e muitos deles tiveram de sair do País. Segundo vejo hoje, há uns poucos empresários que são donos de Portugal, mas, ao contrário do que sucedia há 30 anos, não me parece que estejam a viver no País...

3- A Guerra Colonial.
Durante 13 anos morreram jovens em África, a lutar numa guerra que muitos não acreditavam, pois as colónias mereciam a Independência. Hoje, vejo jovens da minha idade a morrer nas estradas, bêbados, drogados. Os que sobrevivem andam sem perspectivas de futuro, têm empregos precários e estão cada vez mais impreparados para enfrentar a vida. Nas antigas colónias, depois de anos de guerra civil, há ainda muito que fazer durante os próximos 30 anos...

4 - A Liberdade.
Francamente, já começa a ser demais dizer que há Liberdade. A Liberdade, a verdadeira, sente-se sem ser necessário de estar constantemente a lembrarmo-nos que ela existe. Quando isso acontece, devemos desconfiar se realmente ainda a temos...

Por fim, acho que antes como agora, se diz: "Sei que posso ser o que quiser ser, desde que não queira ser o que não quiserem que eu seja".

20040401

Dar cartas

Há uns tempos mostraram-me um baralho de cartas que era a resposta europeia àquele que os norte-americanos inventaram para perseguirem o regime iraquiano.
Este outro baralho tinha o Bush, o Cheney e até o antigo embaixador norte-americano em Lisboa depois do 25 de Abril, Frank Carlucci.
Fiz um artigo sobre o dito baralho no "Tal&Qual", visto que já há uma edição portuguesa de 500 exemplares, editado pela "Radicais Livres". Não o disse no artigo, mas o meu baralho compreio-o na "Ler Devagar", no Bairro Alto.
O original pode ser consultado aqui.
Já agora, sugiro ainda este outro "site", que se chama Vozes Dissidentes.