20031207

Pequenas histórias...

Comprei ontem o mais recente livro de Diogo Freitas do Amaral, "Ao Correr da Memória - Pequenas Histórias da Minha Vida".
Encontrei, na página 118, uma história com Cavaco Silva, onde Freitas do Amaral conta como, em Abril de 1985, quando o seu nome era muito falado como provável candidato à Presidência da
República, recebeu um telefonema do seu antigo colega do Governo AD que queria falar consigo a sós: "Perguntei-lhe onde queria que nos encontrássemos, e ele sugeriu que poderia ser no meu escritório, aonde se deslocaria para o efeito", conta o antigo líder do CDS.
E assim terá sido. Cavaco terá mesmo ido até ao escritório de Freitas do Amaral onde expôs "o seu grande desagrado com a forma como o PSD estava a actuar no governo do Bloco Central, e manifestou sérias preocupações com o rumor de que o PSD (então chefiado por Rui Machete, mas na linha de compromissos eventualmente assumidos antes por Mota Pinto) se estava a preparar para apoiar a candidatura presidencial de Mário Soares, então Primeiro-Ministro".
Cavaco manifestou o seu apoio a uma candidatura de Freitas do Amaral e terá, segundo o autor do livro, dito ainda que "independentemente do que se passar no próximo Congresso do PSD, quero-lhe dizer que, se avançar, terá o meu apoio (e também o do engº Eurico de Melo, que me pediu para lho transmitir). E quero que saiba que, se o PSD não o apoiar, eu serei seu apoiante nas eleições presidenciais, sejam quais forem as consequências disso para mim".
E concluiu assim Freitas do Amaral: "Gestos destes não se esquecem".
Quem não se lembra desta história parece ser o próprio Cavaco Silva que, na página 63 da sua autobiografia de Fevereiro de 2002, contou-nos apenas o seguinte: "No fim de Abril de 1985, antes do Congresso da Figueira da Foz, Diogo Freitas do Amaral, que tinha saí­do do CDS, apresentou a sua candidatura à Presidência da República. Comunicou-me antecipadamente a sua decisão durante um almoço no Hotel Sheraton e eu exprimi-lhe a minha simpatia".

Nota para os mais novos: O Governo de Portugal, neste ano de 1985, era encabeçado, desde o Verão de 1983, pelo Primeiro-Ministro Mário Soares, secretário-geral do PS e que estava coligado com o PSD, cujo presidente e ministro da Defesa, era Rui Machete, visto que Mota Pinto, o anterior líder social-democrata, e igualmente ministro da Defesa desde o iní­cio desta coligação (conhecida então como Bloco Central), se demitiu das suas funções em Fevereiro desse ano de 1985. Em Abril, altura em que Freitas do Amaral e Cavaco Silva têm estas conversas, estava marcado um congresso do PSD para a Figueira da Foz, que iria ter lugar entre 17 e 19 Maio. Freitas do Amaral anunciou a sua candidatura a 26 de Abril. Doze dias depois, o antigo lí­der do PSD e antigo ministro da Defesa, Mota Pinto, faleceu de ataque de coração e, dez dias depois, Cavaco Silva pegou no seu novo Citroën e foi fazer a rodagem do carro até à Figueira da Foz onde seria "inesperadamente" eleito presidente do PSD.

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